terça-feira, 29 de junho de 2021

Deus e o Mundo Criado(TCC Do Francis)rascunho

 

FACULDADE UNIDA DE VITÓRIA

GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

 

 

 

 

 

FRANCIS ALMEIDA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

A HUMANIDADE E SUA RELAÇÃO COM DEUS E COM O MUNDO CRIADO:

 UMA BREVE ABORDAGEM AO CONCEITO DE MISSÃO INTEGRAL

E A MORDOMIA CRIATIVA COMO PRESENTE DE DEUS Á LUZ DO LIVRO DE GÊNESIS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vitória- ES

2017

 

 

 

 

 

 

 

 

A HUMANIDADE E SUA RELAÇÃO COM DEUS E COM O MUNDO CRIADO:

 UMA BREVE ABORDAGEM AO CONCEITO DE MISSÃO INTEGRAL

E A MORDOMIA CRIATIVA COMO PRESENTE DE DEUS Á LUZ DO LIVRO DE GÊNESIS

 

 

 

 

 

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso como exigência do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade Unida de Vitória.

 

 

 

 

 

Orientador: Vilmar Diniz de Oliveira

 

 

 

 

Vitória- ES

2017

 

 

 

INTRODUÇÃO                                                                                                                               04

1. A QUESTÃO ECOLÓGICA                                                                                                        05

1.1. Como está o Mundo Criado?..................................................................................................06

1.1.1. Quais são as possíveis causas deste estado atual de abuso mercadológico em que se encontra o Mundo Criado em Francis Bacon ?.........................................................07

1.2. Sob a luz da criação em Gênesis

1.2.1. Espírito Santo como sustentador da comunhão ecológica.

2.  A QUESTÃO DO PROGRESSO

2.1. Progresso tecnológico

2.1.1. Consequências do progresso

2.2. Benefícios do progresso

2.2.1. Anomia no Mundo Criado

3.   A QUESTÃO DA TRANFORMAÇÃO

3.1. Reino de Deus e Mundo Criado

3.1.2.  O progresso em consonância com a Natureza

3.2. A arte humana em harmonia coma natureza criada por Deus

3.2.1. Um papel de Cuidado

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS


 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÂO

 

            Discute-se nos dias de hoje a respeito do meio ambiente, do futuro do planeta, dos suprimentos de recursos naturais, da extinção das espécies, e, neste contexto surge então uma palavra: sustentabilidade. Este termo está ligado em outro deveras polêmico, que é ecologia. Mas qual é a relação destes termos com o ser humano e com Deus, de acordo com a eclesiologia cristã?

            Ora, no momento da Criação, conforme a crença judaico-cristã, quando Deus formou o homem (ser humano), ele o fez conforme a sua imagem e semelhança. "Deus disse: 'Façamos os seres humanos à nossa imagem, de forma que reflitam a nossa natureza'”[1]. Além do nos fazer semelhantes à Ele, ele ainda nos deu uma responsabilidade sobre tudo aquilo de maravilhoso que ele havia criado para desfrutarmos aqui na terra. “'Para que sejam responsáveis pelos peixes do mar, pelos pássaros do ar, pelo gado, e, é claro, por todo animal que se move na terra'”[2].

            Mas, até onde se estende esta responsabilidade dada por Deus? Até que ponto podemos ser semelhantes a Deus até mesmo no fator chamado criatividade? Quais os privilégios desta condição que o Pai Celeste nos destes, e como isto pode influenciar o mundo, e colaborar no plano de salvação divino em Jesus? Pode ser esta responsabilidade estendida, se comparada as leituras mais ortodoxas, ser incluída no conceito de Missão Integral[3]  apresentado por Padilla?

            Certamente que nossa interação ou intervenção com o meio ambiente pode causar mudanças deveras significativas; e, como essas mudanças, se realizadas ou não, determinam e moldam o nosso meio ambiente; tanto no campo como nas cidades; sejam elas frias ou quentes; ricas ou carentes; na praia, nas planícies, nos desertos ou nos montes.

            E como também o meio ambiente em interação com o ser humano, tanto para o bem como para o mal, pode influenciar os fatos sociais, que nas palavras de Émili Durkheim

 

são os fenômenos que compreendem 'toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.'(...) Fato social é algo dotado de vida própria, externo aos membros da sociedade e que exerce sobre seus corações e mentes uma autoridade que os leva a agir, a pensar e a sentir de determinadas maneiras. [4]

 

 

            Estes fatos sociais estão relacionados extensivamente com os valores e a ética da sociedade,  pois exerce uma força social que muitas vezes se sobrepõe as vontades e aos valores subjetivos dos

indivíduos. Estes fatos sociais estão sempre em mudança, muitas vezes afetadas a medida em que se muda a coesão social[5] de determinada localidade, comunidade ou grupo.

            Diante destas questões, a procura pelo bem-estar[6] e no meio em que vivemos, sem nos esquecer de uma introdutória abordagem ao fator salvação integral e qualidade de vida em Cristo[7], dentro de uma perspectiva teológica e ecológica será o tema deste trabalho. Pois, por muitas vezes, o ensino teológico evangélico atual brasileiro enfatiza tanto as questões chamadas escatológicas de uma era vindoura que permite-se deixar de lado as questões sociais e ecológicas que permeiam a nossa vivência diária. Questões estas que tanto afetam nossa vida, nossa saúde, nosso bem-estar, nossa convivência com os seres e a nossa relação com recursos naturais tão importantes. E que podem nos fazer muita falta em nossa existência como parte deste complexo sistema de vida. Como por exemplo: a água doce, o ar puro, a umidade do ar, as áreas verdes, a fauna e a flora entre outras que podem não serem tão claramente necessárias a existência dos seres vivos, mas, ainda assim, tão importantes quanto.

            De que forma, e porquê, a Teologia colaborar em encontrar respostas para estas questões? Diante          destas, procuramos através do diálogo entre dimensões de alguns saberes, encontrar novas respostas para estes novos problemas socioambientais contemporâneos a luz destes textos bíblicos como também a luz de pensadores das mais diversas épocas e crenças.

 

Cap. 1. A QUESTÃO ECOLÓGICA

 

1.1              Como está o mundo criado?

 

            Sabemos há muito tempo que o ser humano, vem, através da retirada de abusiva de recursos naturais, e também, através da caça e pesca predatória industrial[8] vem prejudicando o meio ambiente causando extinção de alguns destes e desequilibrando o sistema ambiental com impactos globais.

            Vejamos este segmento extrato jornalístico:

 

Uma lista elaborada pela Sociedade de Zoologia de Londres (SZL), divulgada nesta terça-feira, apontou as 100 espécies de animais, plantas e fungos mais ameaçadas de extinção no mundo. Cinco são brasileiras: um macaco, duas borboletas, um preá e uma ave.”Todas as espécies listadas são únicas e insubstituíveis. Se desaparecerem, nenhum dinheiro no mundo poderá trazê-las de volta", disse uma das autoras do estudo, Ellen Butcher.[9]

           

            De fato, este tipo de notícia tem assombrado desde antes do século passado, sobretudo aqueles que se preocupam com tais dados. Pouco se fez desde então, para mudar esta realidade, pelo menos a nível governamental e também eclesiológico brasileiro, que fosse efetivo o bastante para mudar, ou ainda que idealisticamente, projetar uma nova realidade. [10]

            Muito embora, é sabido que muitos ativistas ambientais[11], sejam membros de Igreja ou não, têm arriscado suas vidas[12], e até perdendo-as quando ousam denunciar mais de perto estes abusos ocorridos em, hoje não tão vastas, florestas brasileiras. Além disso temos as nossas árvores cortadas, também de maneira além de apenas predatória, pode-se dizer: abusiva, (como se usando um grau maior para a forma deste abuso), prejudicando o ar que respiramos, o ciclo das águas e das chuvas entre outros impactos nada positivos em nosso meio ambiente global[13].

            Nas cidades, além do número excessivo de carros, temos também poucas políticas públicas, especialmente no Brasil, que procurem arborizar bairros períféricos onde vivem pessoas de classe financeira mais carentes. A poluição está em niveis alarmantes. A qualidade de vida, ou O “Bem viver”,  que segundo o teólogo católico Afonso Murad,

 

 é um conceito em construção que engloba os termos sumak kawsay, dos quéchua do Equador, e o suma qamaña, dos aimarás da Bolívia. Esse conceito fala-nos de um modo de ser, de uma maneira de entender e conduzir a vida, de forma relacional, na qual a liberdade, a felicidade, a reciprocidade e o cuidado e a  festa são valores fundamentais, entre estes significados , que se abrigam no termo “ Bem viver” encontramos a valorização das necessidades, a busca pela qualidade de vida, a saúde para o gozo da vida- além de prevenção ou a cura para as enfermidades, o lazer para o  descanso, a observação e contemplação(...)[14],

 

está comprometido por um sistema econômico que favorece o consumo e a aquisição de bens materiais e que ao mesmo tempo favorecem o aumento da desigualdade social onde esta dinâmica não são privilégios de todos. Não deveria ser o oposto? Já que o sistema capitalista favorece a aquisição de bens, por quê poucos na América  Latina e outras localidades capitalistas e oprimidas não têm esse acesso? Até elementos básicos como moradia e alimentação para todos  são comprometidos em diversas localidades do planeta.[15]

            Algumas localidades, muito embora com grande número de cristãos sejam evangélicos ou católicos, ainda estão em dificuldades  espirituais, éticas, econômicas entre outras.

            Um grande número e instituções cristãs não cuidam de padrões éticos bíblicos porque vivem em uma bolha institucional em que o maior interesse é acudir a demanda mercadológica cristã, em detrimento a uma ética que dialogue e resolva estes problemas que oprimem os menos favorecidos economicamente.[16] O “Sal da Terra”[17] está sem sabor?

            Diante deste quadro, como pode-se os membros de igrejas cristãs também oprimidos economicamente, pensar em soluções para cuidado do mundo criado quando suas demandas de sobrevivência estão tão difíceis de suportar?

            Refletimos deste modo, segundo o teólogo alemão da esperança Jurgen Moltmann

 

Tudo leva a crer que o clima da terra tem se  alterado drasticamente  como consequência da ação humana. As calotas polares começam a derreter, o nível do mar sobe, ilhas desaparecem, aumentam os períodos de seca, crescem também os desertos etc. Nós tomamos conhecimento disso tudo, mas não fazemos o que sabemos que devemos saber. A maioria das pessoas fecham os olhos ou se torna como paralisada. De fato, nada promove mais as catastrofes do que o paralisante “nada fazer”[18]

               

           

            Portanto, buscamos encontrar atitudes refletidas que estejam em harmonia com o espírito cristão de cuidado com seu próximo, de luta contra a opressão para que esta luta se estenda também ao âmbito do mundo criado, da Terra e sua fauna e frora. Onde, entendemos com base na ética bíblica em Gênesis 1, que a humanidade toda será beneficiada destas atitudes de cuidado.

1.1.1  Quais são as possíveis causas deste estado atual  de abuso mercadológico em que se encontra o Mundo Criado em  Francis Bacon ?

           

            Há toda uma relação de fatores já que tudo, no mundo criado, está interligado de algum modo.[19]

            Mas iremos destacar neste trabalho alguns fatores registrados na História, sobretudo a do mundo ocidental cristã, que provavelmente influenciaram o pensamento das gerações que podem ter  ajudado nesta formação da ética capitalista e consumista que rege a maior parte deste mundo glabalizado, e que desta forma, direciona a extração de matéria-prima para atender a demanda deste sistema. 

            Francis Bacon (1561- 1626) , um pensador com uma influência destacável em todo mundo, fora chamado de “inventor do método experimental”, “fundador da ciência moderna e do empirismo” elogiado por Diderot (1713-1784) viveu como político e pensador na Inglaterra do século XVI e XVII, com algumas obras clássicas  que serviram também como fonte para o pensamento moderno  se desenvolver. De fato, sua fala no final da obra Novum Organum ele cita Gênesis e defende seu método empírico sujeitando a natureza a ser investigada pelo seu método cientifico.[20]

            “As outras devem ser recolhidas, quando se chegar à formação da tábua de citação, estabelecidas pelo pelo intérprete através da investigação da natureza em particular(...)”

 

            De modo que Bacon continua sua linha de pensamento onde o empirismo seja a única forma do Homem (humano) colocar as mãos em suas próprias fortunas que está na Natureza, afirmando assim

 

Agora é necessário passar, por ordem, ao adminículos, e as retificações da indução e depois ao concreto(...) (…) Só então poderemos dizer ter colocado as mãos dos homens, como justo e fiel tutor, as suas próprias fortunas, estando o intelecto emancipado, e por assim dizer, liberto da minoridade: daí como necessária, segue-se a reforma do estado da humanidade, bem como a aplicação do poder sobre a natureza.[21]

 

 

                Este, aparentemente, uma aval filosófico para a exploração da natureza para constituição de fortunas que ganha mais força após o parágrafo conclusão de seu texto fazer a seguinte afirmação

 

Pelo pecado o homem  perdeu a inocência e o domìnio das criaturas. Ambas as perdas podem ser reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida; a primeira com a religião e com a fé, a segunda com as artes e a com as ciências. Pois a maldição divina não tornou a criatura irreparavelmente rebelde; mas em virtude daquele diploma: “ Comerás do pão do suor de tua fronte”[22], por meio de diversos trabalhos (certamente não pelas disputas ou pelas ociosas cerimônias mágicas), chega, enfim, ao homem, de alguma parte, o pão que é destinado  aos usos da vida humana.

               

                Assim, Bacon muito provalvelmente não prevendo as consequências futuras destas afirmações, e que realmente, no contexto de sua época, talvez não fosse uma afirmação maligna, mas que trouxera naquele momento e posteriormente uma série de benefícios a humanidade, que neste nosso novo contexto deve ser relida e novamente refletida.

            O que aconteceu com esta contribuição de BACON e outras descobertas que deram ínicio ao paradigma do mundo moderno foi a influência econômica e sua capacidade produtiva não mais do artesanal como outrora mas agora na modernidade, do industrial. MARCOS AZEVEDO citando o AFONSO GARCIA RUBIO expressa esta ideia

 

O método e o conhecimento experimental  medeiam o aparecimento de uma nova visão do mundo e do homem. O mundo não é mais para ser contemplado e imitado ( mundo antigo e medieval, mas para ser enfrentado e dominado pelo homem.(...)(...) O homem desprende-se do mundo e destaca-se nidtidamente dele. E com racionalidade o enfrenta, domina e transforma em proveito próprio. [23]

           

           

            Segundo JUNG MO SUNG, “ O mercado deixou de ser um lugar em troca de excedentes  para ser tornar o fim de toda produção e um articulador da nova organização social”.[24]

            Desta forma, há uma mudança sociopolítico religiosa, a economia de mercado faz com que não mais a riqueza acompanhe os poderosos, mas que o poder acompanhe a riqueza, trazendo, sobre este novo paradigma, um mercado agora deificado, nascendo essa idolatria de mercado.[25]

            Talvez a lógica da reforma protestante que estava alinhada com o espírito da modernidade[26] em que o 'paradigma do sujeito' tenha contribuído para que pessoas, dentro desta lógica tenha se perdido da mensagem do evangelho e isso contribuiu para o desenvolvimento da tecnologia em proveito da exploração e industrialização destes recursos naturais com obediência ao mercado. O mercado pode ser “ouvido” e decisões podem ser tomadas a partir deste “ouvir”, mas se esta “entidade” chamada mercado for “obedecida  cegamente” pela maioria da sociedade, podemos ver  o que está acontecendo com o mundo criado sendo oprimido por esta lógica mercadológica excessivamente exploratória.

           

           

 

 

 

           

 

 

           

1.1.2.      Sob a luz da criação em Gênesis

            Zabatiero dialoga e pergunta sobre a necessidade de se conhecer o mundo criado em que vivemos e de se refletir  teologicamente sobre o mesmo. Afirma, citando Sl 19; Rm 1.18, que o universo desempenha função de manifestação e revelação de Deus. Mundo este que tem um propósito estabelescido por Deus, propósito este que é fundamental para podermos praticar a vontade de Deus ( cF. Ef 1.3-14).[27]

            Ora se Deus criou as árvores e a vegetação, e de forma  deveras criativa as espalhou em nosso meio ambiente, é porque isto é bom e naturalmente necessário para nosso bem viver. Sendo assim, quando o homem as eliminam do ambiente, por motivos que consideramos no tópico anterior, isto sempre causa um desequilibrio no meio: tanto no ar que respiramos, no clima, na vida dos  animais e  até no no fator de bem estar  humano em consonância com o ecossistema.[28]

 

                A criação é descrita como um processo harmônico, ordenado e dirigido pelo próprio Deus, que é o único Deus existente. Isto se contrasta com textos mesopotâmicos, por exemplo, que falava da criação como resultado de uma luta entre deuses, como fruto do caos, desordem inicial produzido por esta luta entre deuses, e que poderia, a qualquer momento, ocorrer novamnte se os deuses não fossem devidamente servidos. O relato de Gênesis 1, em especial, tanto por sua forma poética e ordenada( com a sequencia de dias e refrão ao final de cada dia, progredindo em complexidade até a criação da humanidade e a satisfação  e a benção do descanso), quando através de seu conteúdo, fala da criação como expressão  da amorosa ordem e harmonia da ação de um Deus que se deleita naquilo que cria ( repare no refrão” E viu Deus que isso era bom “, repetido ao final de cada dia da criação) (…) (…) O texto de Gênesis conta que somente a Palavra de Deus foi o instrumento e a matéria usada por Deus para criar tudo o que existe.( em Hebreus 11:03, usa-se a linguagem semelhante, que deu origem ao termo teologico latino creatio ex nihilo, que significa, criação a apartir do nada- ou seja, ao criar a própria matéria é criada pois nada além de Deus existia antes da criação. Neste sentido, a criação toda é “espiritual”, pois sua matéria é a própria Palavra de Deus.[29]

 

 

 

                Assim, ZABATIERO nos coloca diante do modo especial em que Deus coloca toda criação debaixo de suas asas “espirituais”.

            Também podemos perceber a importância espiritual que toda criação recebe de Deus nesta reflexão do PAPA FRANCISCO

 

Os relatos da criação  no livro de Gênesis contém, em sua linguagem simbólica e narrativa, ensinamentos profundos sobre a existência humana e sua realidade histórica. Essas narrativas sugerem que a existencia humana baseia-se em três relações fundamentais estreitamente conectadas: a relação com Deus, com o próximo e com a Terra. (…) Nelas já está contida uma convicção atual: que tudo está relacionado e que o autentico cuidado com a nossa própria vida e com nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade com os outros.[30]

 

 

 

            Assim, também percebemos, pela via do PAPA,  como deveras importante é entendermos de forma espiritual o significado de todo mundo criado por Deus e entendermos a relação de cuidado com este.

            ZABATIERO assim traz uma perspectiva mais ampla no sentido de criação. Sabedoria está junto ao bojo de realidades que Deus criou como forma da dar toda completude a seu ato criativo.

 

Poderíamos dizer que o universo é um grande poema de Deus, presenta de Deus que não tinha necessidade de criar o mundo, mas, por amor, o criou. No livro de provérbios fala-se da sabedoria com agente divino da criação ( 8.22-36), com uma linguagem simbólica bastante exaltada que coloca sabedoria no mesmo nível da Palavra de Deus. A sabedoria, no AT destaca principalmente a harmonia do mundo criado e a importância de justiça nas relações entre as obras da criação, a fim de que haja vida para todos.

 

            Sabedoria esta que deve nos ajudar em nossas relações com este sensacional mundo criado.

           

 

 

 

                       

 

1.2.1.                 Espírito Santo como Sustentador da comunhão ecológica.

 

            O Espírito Santo de Deus nos sustenta de maneira poderosa e ordena o mundo natural.Todas as relações entre os seres vivos estão entrelaçadas por suas interrelações e, ainda mais, pelo poder ordenador da Santo Espírito[31].

            Pois Jesus se fizera um de nós, se desfazendo de sua suprema dignidade, para se revelar e oferecer unidade e comunhão com o Deus Trino e Uno por meio de sua obra salvífica.

            O Espírito deste modo traz também a Sua condução neste processo de unidade e comunhão divinas tanto vertical quanto horizontalmente, assim como para continuar a sua obra missionária salvífica a partir da redenção divina.[32]

           

 

 

 

           

2.      A QUESTÃO DO PROGRESSO

 

            Muitos avanços tecnológicos fizeram a humanidade em todas as épocas, desde o ínício da existência desta, mas, a partir do séc. XX, ou até antes as em menor proporção, estes avanços foram se tornando um bem necessário, tão necessário que muitos de nós simplesmente dizemos “não conseguir viver sem eles”, conforme nos informa muitas pesquisas de opinião nesta geração contemporânea. É dito que não se consegue viver sem tecnologia mesmo quando isto se torna algo paradoxal, quando os avanços deveriam ser indícios de um bom progresso. Estes nem sempre o são.

            Apesar do termo progresso segundo definição do dicionário na internet seria” Ação ou resultado de progredir” e “Movimento pra frente; avanço”[33].

            Diante destes conceitos nos dicionários, junto aos nossos pressupostos, percebe-se um destaque ao movimento como se todo movimento para frente, em avanço fosse algo extremamente benéfico, mas ao analisarmos esse termo criticamente e entendermos as consequências deste tipo de mentalidade progressista, podemos realmente afirmar que todo movimento de avanço, sem considerar seus efeitos colaterais, são benéficos?

            Claro que o termo progresso não se limita apenas avanços tecnológicos, pois temos outras dimensões de progresso, como por exemplo, o progresso social ou o progresso de uma lavoura por exemplo. Porém, no âmbito das tecnologias é onde percebe-se o quanto o mercado e o consumismo acabam por supervalorizar essa ideia de progresso.[34]

           Supervalorização esta que pode trazer efeitos que devem ser analisados criticamente. Em outras palavras, podemos conceituar o progresso de uma forma mais ampla para trazer-nos uma nova interpretação este conceito?

            Alguns entendem como progresso uma atitude não conservadora, simplesmente. Pois progresso leva as pessoas a se moverem sempre. Mas, neste movimento chamado progresso há alguma espécie de real crítica sobre como este progresso está sendo feito? Ou a que fim este progresso levará determinada situação? Será que algumas atitudes vistas como conservadores, podem serem vistas como progresso também? A partir destas perspectivas, aqui analisaremos estas questões de forma breve.

           

2.1.1.                 Consequências do progresso

 

            Moltmann traz à tona um problema que deveras é debatido ao redor do mundo e estre os países “chamados os mais ricos e desenvolvidos”. Mas não há consenso e, nem tampouco se tem notícia de 'boa vontade' por parte de muitos destes líderes globais em resolver estas questões sendo que esta chamada “paralisia" denunciada por Moltmann pode e atinge níveis alarmantes.       

 

Porque tanto a relação da Modernidade com a natureza quanto a sua concepção de ser humano são determinados pela teologia. Isto se revelou no princípio do domínio do ser humano, criado assemelhados a Deus e, por fim, o conceito mecanicista da Terra e dos demais seres vivos. Os quais deveriam ser subjugados pelo gênero humano.[35]

 

 

                Quando nós resolvemos que o automóvel seria o principal modo de transporte de muitas grandes cidades, será que analisamos com clareza as consequências que porventura apareceriam?

            Basta uma olhada em nossa volta para percebermos que não, ou, pelo menos, aparentemente pouca gente se importa, sobretudo em solo brasileiro, se nossas ruas serão tomadas pelo asfalto e cimento, não deixando sequer uma pequena faixa de terra ou gramado, e acabando com a pequena  fauna e com o pouco verde que poderia fazer parte deste, quase invisível, ecossistema nesta comunidade.

            Em favor do automóvel. Em benefício da comodidade de se usar automóveis a todo momento e para todas as locomoções, a humanidade acaba com a possibilidade de vida animal e floral nativa neste solo, dando lugar para as pragas de insetos e roedores que podem, e costumam, ser um problema com status de saúde pública em áreas metropolitanas e com grande concentração de humanos.

            Consequentemente, neste Brasil onde as temperaturas costumam serem altas na maior parte do ano, a combinação de asfalto, excesso de prédios bem altos que dificultam a circulação do vento, pouca sombras causadas pela falta de árvores, escassez de ar puro processados por elas, e a pouca umidade relativa do ar causam fenômenos como: a falta de chuvas em lugares onde outrora chovia-se razoavelmente, alergia se problemas respiratório nas pessoas, cansaço, uma sensação de desconforto aparentemente inexplicável que o ser humano nem mais está  realmente sensível a suas verdadeiras causas e nem tampouco se dá conta disso, à não ser que seja conscientizado disto ou tenha um insight que lhe revele, momento este que pode ser atuação do Espírito de Deus que sustenta toda a ordem do mundo criado.[36]

 

2.2.1. Benefícios do progresso

 

            O progresso, aqui de modo benéfico, se caracteriza como uma atitude de vanguarda onde valores são imputados na sociedade de modo que traga vida, e de certa forma tenha conexões paradigmáticas na sociedade ou microcosmo social onde é produzida. PADILLA faz uma leitura desta forma progressiva de ser usando a nação antiga de Israel como modelo, conforme esta conexão paradigmática entre Israel e o resto do mundo onde biblicamente está inserida a vontade de Deus. PADILLA lê o Levítico 25 onde existe a ordenança do Jubileu para traçar este claro paralelo com a atual situação do sistema econômico mundial

 

Em que pesem os anos transcorridos, os valores do Jubileu mantêm sua vigência pelas seguintes razões, entre outras: 1. Porque o própósito de Deus para a humanidade permanece (…) Um dos elementos deste próposito é que as relações humanas, incluindo as que se referem à questão econômica, se baseiam no amor e na justiça(...) Porque, no fundo, os problemas que obstruíam as relações humanas nos tempos bíblicos então presentes também hoje: o abuso do poder, a ambição de riquezas materiais, a exploração dos pobres.[37]

 

             Deus havia criado, com o estabelescimento do Jubileu, uma lei onde havia um sistema de proteção social muito à frente de seu tempo, tão à frente que transcende os dias atuais.

            A preocupação de Deus com à terra, onde se encontra referência também em Êxodo 23.10,11 e Deuteronômio 15.1,2. Em primeiro lugar, Deus propôe que a terra descanse periódicamente, a cada sete anos”[38]. Onde Deus expressa seu cuidado de forma sustentável à sua criação. De forma que este descanso expressa sobremaneira a responsabilidade ecológica não justificada por interesses econômicos, mas pelo simples cuidado do mundo criado, ainda assim em favorecimento a toda provisão garantida pelo Criador.[39]

            O lógica do progresso em que vivemos, dominada pela ideologia do crescimento capitalista ilimitado não deixa espaço para o descanso da terra, muitas vezes, nem dos animais e nem do povo que trabalha dentro desta lógica cada vez mais exploratória.

             A lógica de um progresso mais atrelado a melhoria de vida em geral, o que é defendido aqui como progresso benéfico, seria uma lógica em que a “administração que  cuida dos que nos fora confiado”[40] que é o significado original da palavra economia. A economia deve então estar associada  ao cuidado daquilo que nos é confiado trazendo assim uma perspectiva de um progresso que sela realmente benéfico. Benéfico para os humanos, para os animais, para a flora, para o ar saudável, para a terra que também precisa de descanso, para a diminuição da pobreza e das desiguldades sociais, para uma ampla política em que haja emprego e sustento digno para todos. Paises e nações onde se explora mão de obra barata e não têm consciência em cuidar do planeta em nome do mercado, deveriam contemplar novos modelos sustentáveis onde o planeta será beneficiado e as pessoas junto com toda criação possa desfrutar, no mundo todo deste modelo criado por Deus para seu povo de Israel que deve se estender para toda humanidade. Todos e toda criação têm direito ao descanso do Senhor para que suas relações econômicas sejam renovadas e sempre refletidas conforme ordenação divina.

2.2.1.                 Anomia no Mundo Criado

 

            Existem certos agravantes em não sermos sensíveis ao nosso mundo criado.

            Muitas vezes deixamos o “progresso” avançar de maneira descontrolada de forma qque este deixa de sê-lo.

            Além de muitas vezes acabarmos com a interação natural do lugar, ainda temos que lidar com a baixa qualidade de vida; a falta de calçadas largas o suficiente para uma boa caminhada com carrinhos de bebês, cãezinhos abandonados que logo podem ser atropelados em seu outrora próprio habitat natural (agora dominado pelo asfalto), e até mesmo a criminalidade entre os jovens que talvez aumente por motivo de stress ambiental.

             Explicando stress ambiental a luz de Marx:

 

A consciência acerca do ambiente sensível imediato e a a consciência da conexão limitada(...) é, ao mesmo tempo, a consciência da natureza, a qual a princípio se opõe aos homens como um poder completamente estranho, todo-poderoso e inatacável, com o qual os homens se relacionam de modo puramente animal e pelo qual os homens se deixam amedrontar como animais; e, portanto, uma consciência puramente animal da natureza. (Religião Natural).[41]

 

 

             Aceitando ou não este argumento integralmente, percebemos que a idéia seguinte se apropria em partes desta reflexão de Marx onde todos ambientes desfavoráveis a: vida livre, prática de esportes, as brincadeiras de crianças e jovens; podem de certa maneira, se não for feito os ajustes sociais necessários, serem fatores que causam os Fatos Sociais indesejáveis (pois, claro, também existem os desejáveis!) que regem determinadas sociedades; e que podem levar estas mesmas crianças e jovens a penderem em direção a  marginalidade ou até mesmo criminalidade. Como acontece com frequência em áreas de gueto e periferias no Brasil. Pois o esporte, a igreja, a vida saudável em comunidade pode ser decisivos para que um fato e uma coesão social sejam inclusivas, mesmo as classes mais carentes. Em contrapartida, a ausência de atividades esportivas em ambiente abertos: ausência da igreja, ou daqueles que seriam “bons exemplos”, causa uma coesão social muitas vezes maligna, em que o jovem não vê outros heróis a não ser os criminosos mais perigosos, que lhe oferecem uma proteção muitas vezes utópicas, explorando estes em suas atividades mercantis criminosas. Leia-se tráfico de drogas, assaltos, entre outras.

            Assim façamos esta pergunta. Até que ponto estamos realmente progredindo benéfica e historicamente no Brasil?

            Seria ao ponto de um progresso ás avessas, se considerarmos as idéias da maioria, até onde sabemos, dos ambientalistas e sociólogos em âmbito brasileiros. Pois tudo que piora a qualidade de vida do ser humano e sua felicidade, não pode ser chamado de bom progresso. Pois progresso, diante desta perspectiva, seria um aperfeiçoamento na vida na comunidade. Diante da perspectiva ambiental, podemos e devemos fazer muito mais, ou de outro modo estaremos deteriorando o nosso progresso.

            As desigualdades sociais têm aumentado no Brasil

3.      A QUESTÃO DA TRANFORMAÇÃO

3.1 Reino de Deus e Mundo Criado

 

           

            “Além desta razões, refletir sobre o mundo criado no sentido teológico é fundamental para  nos ajudar a viver melhor e de forma harmoniosa com a natureza toda, desfrutando adequadamente daquilo que pertence a Deus. a criação toda daquela somos mordomos ( Gn 1 e 2 ) ”[42]

 

             A presença da Igreja, no mundo, como continuação do ministério de Jesus Cristo, firma-se práxis e anúncio do Reino de Deus que carrega em si o chamado a liberdade quem responde a vocação da graça. Livra-se da escravidão do pecado, das forças meritórias de qualquer religiosidade da opressão do diabo, de si mesmo, e abre-se à nova vida, ofertada pelo único capaz de promover tal libertação- a experiência com o Cristo de Nazaré. Ou seja, não existe salvação sem a experiência da liberdade.[43]

 

 

 

 

Se a nossa cultura, especialmente a brasileira, não se importa com o mundo criado, Freston debate a assunto desta maneira

           

Precisamos ser contraculturais na Igreja, não apenas na sociedade. Por isso, precisamos de equivalentes evangélicos de monasticismo, que preservem a fé contracultural, que valorizem o pequeno e busquem uma vida cristã mais séria e abnegada.(...) [44]

               

3.1.2.  O progresso em consonância com a Natureza

 

           

            Os excessos do consumismo orientados por ouvirem somente o mercado ocorrem em diversos âmbitos da atividades industriais com vista no super lucro e na ênfase de fomentar o a consumismo de forma a aumentar o super lucro.

 

            Moltmann sugere este discurso como solução

 

Nós precisamos desenvolver uma nova forma de compreender a natureza, bem como uma nova concepção de ser humano para que, assim, possa surgir uma nova forma de experimentar Deus em nossa cultura. Neste sentido, uma nova teologia ecológica pode nos ajudar imensamente.[45]

 

            No Brasil, as atividades agrárias sobretudo nas regiões Centro-Oeste e parte da Sudeste têm se intensificado as monoculturas onde é privilegiado o grande latifundiário. Grandes áreas produtivas são usadas em forma de pastos, outras para cultura da cana-de-açucar para produção de combustível onde há muito tempo se sabe, empobrece o solo e dificulta que os pequenos agricultores cultivem lavouras e criações diversas e possam otimizar a entrega do fruto de seu trabalho à sociedade um produto muito melhor, livre de agrotóxicos e transgênicos através da excelente idéia das cooperativas. O assentamento legal, com apoio dos governos, dos militantes do Movimento dos Sem–Terra  para que pudessem desenvolver seu trabalho de forma digna, seria uma justa solução que amenizaria o problema da falta de renda de muitas famílias, diminuiria o êxodo rural melhorando a mobilidade das grandes cidades e trazendo mais recursos ecônomicos nas mãos da população destas localidades, onde entendemos que isto trará novas formas de arrecadação dos governos, que se aplicados com sabedoria, podem trazer desenvolvimento sustentável sobretudo para este país, chamado Brasil.

            Nas grandes cidades, a separação dos lixos recicláveis também ajudaria a aumentar o grau   de salubridade das pessoas que vivem em grandes cidades. A vida mais simples traria também novas perspectivas sobre como diminuir o desperdício de comida nos supermercados, restaurantes e padarias. Sabe-se que pessoas têm tomados atitudes individuais que reduzem este desperdício, mas atitudes coordenadas pelos governos ou instituições religiosas conscientes podem produzir ainda mais riquezas desta atiudes suntentáveis.

            Atitudes como o simples compartilhamento do carro ou moto pode gerar uma grande economia a todos, em combustível, em estacionamentos, em tempo de percurso até que nossos governos possam investir em transportes públicos de qualidade, dignos e seguros. Rápidos o bastante para que não se faça mais sentido ir ao trabalho o escola de carro. Deste modo o carro seria usado apenas pra fazer compras e viajar. Imaginem se na cidade de São Paulo 30% dos motoristas tivessem esta atitude, seria aproximadamente 2,5 milhões de carros à menos nas vias otimizando o tempo de todos.[46] Levando em conta que muitas pessoas perdem muitas horas no trânsito de São Paulo, a otimização deste tempo de percurso traria  além de benefícios econômicos para cidade pois as pessoas chegariam nos horários ás reuniões, trabalhos, escolas entre outros compromissos o que diminuira o stress e aumentaria a disposição física das pessoas em geral.  E melhora o ar.

            E porque não também, vias acessíveis a cavalos e similares se alguém assim optar por seu uso não abusivo como transporte alternativo? Com uma bela legislação que defenda esses animais de violência e qualquer forma de abusos sem dúvidas. Se a nossa cultura, especialmente a brasileira, não se importa com o mundo criado, FRESTON debate a assunto desta maneira

           

Precisamos ser contraculturais na Igreja, não apenas na sociedade. Por isso, precisamos de equivalentes evangélicos de monasticismo, que preservem a fé contracultural, que valorizem o pequeno e busquem uma vida cristã mais séria e abnegada.(...) [47]

               

 

 

               

3.2.A arte humana em harmonia com a natureza criada por Deus

 

            Muitas vezes conseguimos transformar uma obra prima de Deus em algo que seria chamada de nossa arte ou arte humana.  Quais as implicações das intervenções artísticas da humanidade e qual a relação desta com Missão Integral neste contexto de sustentabilidade?

            Relatos bíblicos nos diz: Somos semelhantes ao Deus Criador. E Deus também nos dá oportunidade de criarmos artisticamente, que não é necessariamente criar, mas transformar criativamente o que já fora dado por Deus, pois o mandamento de Deus não é contra a produção da arte em si, ”Mas contra a adoração a qualquer coisa além de Deus, e, especificamente, contra a adoração à arte. Adorar a arte é um erro; produzi-la não.”. Segundo Francis A. Scheaffer.

            Essas idéias surgem tanto da bíblia quanto na defesa do teólogo Scheaffer, de que muitas vezes Deus ordenara que se produzisse obras de arte, tanto na confecção da Arca da Aliança, quanto nas vestes do sacerdote, ou na construção do Templo, na música, entre outros exemplos bíblicos. O que o povo deveria fazer é nunca tomar estas formas de expressão artísticas como ídolos. Pois só Deus é digno de adoração.

            Desta maneira, doutrinas baseadas na Bíblia nos permitem criar artisticamente e até mesmo em nome de sua expressão religiosa, porém, deve-se levar em conta que, até que ponto, uma intervenção humana na natureza pode ser maligna ou benigna. Creio que a melhor maneira seria estar atento a voz do Espírito Santo. Desta maneira René Padilla nos exorta:“ Sem oração não há missão cristã”[48].  Também nos ensina que ”em síntese a missão cristã começa e termina em Deus[49]. Assim a criação artística da humanidade deve ter a direção de Deus.

            Criar é algo bem abrangente, então, vamos especificar a criação artística no âmbito do meio-ambiente.

            Criar artisticamente, pode ser também: a construção de casas, fábricas, ruas, prédios ou quaisquer outras formas de intervenção humana no meio ambiente que não agredisse o mundo criado por Deus, especialmente sua fauna e flora. Assim foi escrito por Montaigne:” Não há razão para que a arte sobrepuje em suas obras a natureza, nossa grande e poderosa 'mãe'. Sobrecarregamos de tal modo a beleza e riqueza de seus produtos com nossas invenções”[50].

            A nossa arte criativa, especialmente a arte ambiental deve levar em conta os fatores de proteção aos animais, aos seres humanos, e respeito a criação divina. Ou seja, estar em harmonia com todos esses fatores tornam a arte humana, o progresso, algo bom e que eleva o nível de desenvolvimento humano de uma localidade.

           

3.2.1.                 Um papel de Cuidado

                       

            Uma má influência artístico-criativa no meio ambiente pode trazer efeitos sociais curiosos.

            Desta maneira, o trabalho começa com a conscientização.  

            Havendo engajamento espiritual, pregação da palavra de acordo com valores cristãos e conscientização, podemos paulatinamente realizar esta reforma social e resgatar estes valores de verdadeiro relacionamento com Deus, entre as pessoas e a criação divina segundo ideais da Teologia de Missão Integral e da Teologia da Libertação, já que o termo sustentabilidade também sugere interação entre  pessoas e as coisas criadas, e nesta interação não pode se haver exploração, sobretudo dos mais necessitados, nem dos animais, das plantas e do Planeta em si. Pelo contrário, deve-se haver um esforço de se incluir socialmente estes para que a sociedade melhorar em sua justiça.

            Deste modo, PADILLA cita a 'economia do suficiente' 

 

onde é privilegiada o estilo de vida simples  e dá descanso porque coloca a relação com Deus, com o próximo e com a criação acima do interesses materiais. É uma economia que nas palavras de E.F. Schumacher, leva em conta que “as pessoas importam”[51]; é uma economia que insiste ns necessidades básicas de TODOS os membros da sociedade, sem exceção, e exclui a acumulação de posses materiais em mãos de uma minoria privilegiada.[52]

 

 

            Uma economia voltada para o bem estar de todos também trará e economia para os mais mais ricos que serão beneficiados por um melhor lugar para se viver com pouca poluição onde se aumenterá a qualidade de vida e consequentemente à saúde de todos.

            Ainda, segundo o teólogo Júlio Paulo Tavares Zabatiero e sua sistemática, vivemos numa comunhão  ecológica com Deus, com os irmãos, e com toda a Sua criação, através de seu Espírito Santo.

            Por este motivo; harmonia, felicidade, bem-estar e proteção à criação, e a não exploração destas podem ser fortes indícios de intimidade, comunhão e harmonia com Deus.             

 

CONCLUSÃO

 

            A reflexão teológica e cristã ao longo de suas eras, especialmente em períodos de crises como: guerras, divisões familiares, violência urbana, carência de alimentos, tem dado respostas muitas vezes, bem à frente de seu tempo à muitos destes problemas. Ainda que nem todos os problemas fossem solucionados de forma lógica, mas podemos dizer que todos tiveram suas tentativas, embora muitas destas tentativas envolvam paradoxos que por fim, o próprio paradoxo é que sustenta-se como solução. Porém, não consegui enxergar através desta pesquisa dificuldade teológica ou paradoxos em tratar destas questões em forma de proteger nosso mundo criado. Sim, como parte dele, e ser parte dele não significa que temos igual responsabilidade sobre o que acontece com ele junto a todos os outros seres que nele habitam. Os outros seres não têm a capacidade destrutiva dos seres humanos. O desequilíbrio que mata cãezinhos nas estradas atropelados e animais marinhos em seu habitat não podem ser controlados por esses animaizinhos que fazem parte do mundo criado senão pelo ser humano.

            Então, consciente de que nós, os humanos, estamos em privilégio pois temos a capacidade mental de encontrar soluções de vida que beneficiem os oprimidos neste mundo Criado. Então, que assumamos nossa parte conforme Deus nos deixou responsáveis. Porque ELE tudo criou e disse: “É bom”.

            Podemos ser criativos e abençoar muitas vidas em nome de Jesus ainda no mundo  secular. Pois, além da questão de intervenções sobrenaturais de fé cristã, também somos chamados a agir no mundo natural também, mas devemos ser éticos e pensar se esta nossas atitudes criativas podem afrontar de algum modo a criação de Deus por serem, por exemplo, demais  consumistas e egoístas. Analisemos esta informação:

 

Quarenta anos atrás, o mar de Aral ficava repleto de barcos e pescadores - mas agora ele praticamente desapareceu. Ele começou a secar com a construção de represas e canais, a partir dos anos 1960, que impediram dois rios de abastecê-lo de água. Em 2000, o Mar de Aral do Norte já estava separado do Sul. Em 2014, o lado leste do mar já estava completamente seco.

 

            Ora, se pelo simples fato de intervirmos excessivamente no meio ambiente trazendo stress e infelicidade para as pessoas que ali vivem, já pode ser uma afronta à criação de Deus. Imaginem.. matar e deixar morrer os cãezinhos atropelados nas vias públicas e os pássaros serem extintos próximos a locais onde se há grandes concentrações de humanos em centros urbanos. Por mera ação humana, consciente ou inconsciente, que aniquila qualquer habitat tornando-o pouco produtivo para que as obras e arte de Deus possam viver neles. Como podemos nos esquecer que a criação de Deus está, biblicamente, sob nossa responsabilidade? Não podemos esquecer e nem tampouco sermos passivos diante desta situação que pode trazer infelicidade para nossos filhos, netos familiares, amigos, nós mesmos e a Deus.

            A exploração excessiva de recursos naturais, as superproduções de lixo e a falta de programas de proteção ao ambiente e aos animais trazem muitas dores ao nosso ecosssistema.

            Normalmente, a história contemporânea tem demonstrado que na falta de recursos, sejam eles quais forem, sempre atingem os mais carentes. Quem sentem os efeitos de forma mais cruel em contundente são os mais pobres. Sendo assim a falta de cuidado com a natureza também pode ser, um instrumento de opressão aos mais necessitados, que irão, ou já estão sentindo efeitos da má mordomia humana com relação aos recursos, enquanto, de outro lado, surgem atitudes de alguns humanos que minimizam ou revertem este quadro trazendo enormes benefícios à vida dos mais carentes, dos mais ricos, de toda população, pois entenderam  que o conceito de mordomia com o mundo criado por Deus trouxe sustentabilidade aumentando a qualidade de vida de todos, incluindo os pobres.

            Devemos valorizar muito toda criação de Deus, ainda que almejamos morar no céu como meta, anseio de nossa fé.

            Além do mais, gostaria de fazer uma pequena referência aos bebês intrauterinos, que já receberam à vida. Devem ser muito bem preservados e cuidados. Não abortados. Segundo o teólogo Luiz Sayão:” A vantagem teológica é de quem é mais parecido com o nenê:'Naquela ocasião Jesus disse; Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e cultos, e as revelastes aos pequeninos. Sim Pai, assim foi de Teu agrado'''. 

            Ora, nem nasceram ainda e será que não vão conhecer as mavilhas da criação de Deus em sua natural originalidade? Percebem o quanto crianças sentem pesar quando veêm bichos perdidos e abandonados nas ruas em espaços urbanos? Normalmente as crianças têm um poder acima da média em convencer os pais a adotarem bichinhos abandonados.

            A  ideia de Missão Integral envolve também justiça para esses pequeninos que virão após nossa geração, e que merecem um lar tão puro, justo e agradável para todos es seres assim como o Pai Celeste nos destes.

Ecclesia Reformata et semper reformanda est

Referências

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AZEVEDO, Marcos. A liberdade cristã em Calvino: Uma resposta ao mundo contemporâneo. Santo André: Academia Cristã, 2009.

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Sítios eletrônicos visitados

BETA,Veja.com.IN:<http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/cientistas-divulgam-lista-das-100-especies-mais-ameacadas-de-extincao.>  Acessado em:13/04/2015

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IN:<http://noticias.terra.com.br/ciencia/sustentabilidade/fotos-da-nasa-registram-mudancas-ambientais-no-mundo,fe2d92b19b9ac410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html> Acessado em:13/04/2015

<https://vejasp.abril.com.br/cidades/carros-em-sao-paulo/  > acessado em 22/10/2017 ás 22:16

 

 

 



[1] A BIBLIA Mensagem. Tradução de Eugene Peterson. São Paulo: Vida, 2011.

[2] PETERSON, 2011, p.23

[3] Segundo Padilla: Conceito de Missão no qual este é um meio  “designado por Deus para cumprir na história, por meio da Igreja  no poder do Espírito, seu propósito de amor e justiça revelado em Jesus Cristo.”

[4]  QUINTANEIRO,Tania & et al. Um toque de Clássicos: Marx, Durkheim&Weber. 2ª ed.revista e ampliada.Belo Horizonte. UFMG.2003.pag. 68 à 81.

[5]Para a sociologia, a coesão social é o sentido de pertença a um espaço comum ou o grau de consenso dos integrantesde uma comunidade. Dependendo do grau de interação social no seio do grupo, poderá haver mais ou menos coesão.

[6]Trata-se, neste texto, da satisfação humana em estar próximo, e em harmonia, ao mundo criado, não sendo uma ideia evolucionista, mas, sobretudo, a ideia do propósito original de Deus em posicionar o ser humano em ambiente paradísíaco e adequado.

[7] PADILLA, René. O que é Missão Integral? Viçosa: Ultimato, 2009. p.62.

[8]Neste artigo, refere-se ao extrativismo exagerado, por causa do consumismo mundial, que financia esta prática extrativista que não está preocupada com o fator “sustentabilidade”.

[10]Cf. FRESTON, Paul. Religião e Política sim, Igreja e Estado, não: Os evangélicos e a participação  política. Viçosa: MG: Ultimato.2006. pp.46-48.

[13]  Cf. MURAD, Afonso et all. Ecoteologia: um mosaico. São Paulo: Paulus, 2016.  Apud Fonte: <http: //cupuladospovos.org.br>. Acesso em 17/05/2013.

[14] MURAD, Afonso et all. Ecoteologia: um mosaico. São Paulo: Paulus, 2016.

[15] MURAD, 2016, pp. 32,33.

[16]Cf. FRESTON, 2006, p.44.

[17]Cf. A BIBLIA. 2011. Metáfora de Jesus que refere-se aos discípulos em serem uma contracultura que tráz luz e um lugar de mudança ao mundo corrompido ao ponto de dá-lhe 'um novo sabor” com justiça, amor e nova direção.

[18] MOLTMANN, Jurgen & BOFF, Leonardo. Há esperança para humanidade ameaçada? Tradução: Levi Bastos. Petrópolis: Vozes, 2014.p.18

[19]MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF : UNESCO, 2000.

[20] BACON, Francis. Novum Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da Interpretação da Natureza;Nova Atlântida.São Paulo: Nova Cultural.1988.

[21]BACON, 1988, p. 230

[22]BACON apud A Biblia, Tradução JoãoFerreira de Almeida , .

[23] AZEVEDO, Marcos apud  RUBIO, AFONSO. A liberdade cristã em Calvino: Uma resposta ao mundo contemporâneo. Santo André: Academia Cristã, 2009,p.41.

[24]AZEVEDO apud  SUNG, Jung Mo, 2009, p.41.

[25]Cf. AZEVEDO apud SUNG, 2009, p.42.

[26]COSTA, Hermistem Maia Pereira. Pietismo: Um desafio à teologia. IN: Fides reformata,4/1, 1999.

[27]Cf. ZABATIERO, Julio Paulo Tavares  et al.  Curso Vida Nova de Teologia Básica:  Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2006, p.50

[28]Idem, p.50

[29]Idem, p.51

[30]GARCIA, Luiz Gabriel Espindola & LODOÑO, Alejandro apud  Papa Francisco. Perspetciva a partir da Biblia. IN: MURAD, 2016, p. 137.

[31]Cf. ZABATIERO, 2006, p. 44.

[32]Cf. ZABATIERO, 2006, p. 44.

[34]Cf. AZEVEDO apud SUNG, 2009, p.41-42.

[35]Idem., p18, Moltmam apud ?

[36]Cf. ZABATIERO apud Salmos 104:29,30, 2006, p. 53.

[37] PADILLA, René. Deus e Mamon: Economia na era da globalização. Rio de Janeiro: Novos diálogos, 2011.

[38] PADILLA, 2011, pp.34-35.

[39] Cf. PADILLA, 2011, pp.34-35.

[40]PADILLA apud GOUDZWAARD e LANGE, 1995:42, 2011, p. 36.

[41]PINA, Àlvaro & et al. Karl Marx e Friedrich Engels: a ideologia alemã. Lisboa: Editorial Avante, 1846.

[42]  Zabatiero, 2006, p. 49

 

[43] AZEVEDO, Marcos. A liberdade cristã em Calvino: Uma resposta ao Mundo contemporâneo. Santo André: Academia Cristã, 2009, p. 303.

[44]Cf. FRESTON, 2006, p.47.

[45]Idem, p.18

[46]<https://vejasp.abril.com.br/cidades/carros-em-sao-paulo/  > acessado em 22/10/2017 ás 22:16

[47]Cf. FRESTON, 2006, p.47.

[48]PADILLA, 2009. p.p. 10-65.

[49]PADILLA, 2009. pp.  10-69.

[50] MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 104

[51]PADILLA apud SCHUMACHER(1974), 2011, p. 36

[52]PADILLA, 2011, p.36.

Predestinação e Livre arbítrio.

  ³⁰ E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou. Romanos 8:30 ¹³ mas aq...