FACULDADE UNIDA DE VITÓRIA
GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
FRANCIS ALMEIDA DE OLIVEIRA
A HUMANIDADE E SUA RELAÇÃO COM DEUS E COM
O MUNDO CRIADO:
UMA
BREVE ABORDAGEM AO CONCEITO DE MISSÃO INTEGRAL
E A MORDOMIA CRIATIVA COMO PRESENTE DE
DEUS Á LUZ DO LIVRO DE GÊNESIS
Vitória- ES
2017
A HUMANIDADE E SUA RELAÇÃO COM DEUS E COM
O MUNDO CRIADO:
UMA
BREVE ABORDAGEM AO CONCEITO DE MISSÃO INTEGRAL
E A MORDOMIA CRIATIVA COMO PRESENTE DE
DEUS Á LUZ DO LIVRO DE GÊNESIS
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso como
exigência do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade Unida de Vitória.
Orientador: Vilmar Diniz de Oliveira
Vitória- ES
2017
INTRODUÇÃO 04
1. A QUESTÃO ECOLÓGICA 05
1.1. Como está o Mundo Criado?..................................................................................................06
1.1.1. Quais são as possíveis causas
deste estado atual de abuso mercadológico em que se encontra o Mundo Criado em
Francis Bacon ?.........................................................07
1.2. Sob a luz da criação em Gênesis
1.2.1. Espírito Santo como
sustentador da comunhão ecológica.
2.
A QUESTÃO DO PROGRESSO
2.1. Progresso tecnológico
2.1.1. Consequências do progresso
2.2. Benefícios do progresso
2.2.1. Anomia no Mundo Criado
3.
A QUESTÃO DA TRANFORMAÇÃO
3.1. Reino de Deus e Mundo Criado
3.1.2. O progresso em consonância com a Natureza
3.2. A arte humana em harmonia coma
natureza criada por Deus
3.2.1. Um papel de Cuidado
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÂO
Discute-se
nos dias de hoje a respeito do meio ambiente, do futuro do planeta, dos
suprimentos de recursos naturais, da extinção das espécies, e, neste contexto
surge então uma palavra: sustentabilidade. Este termo está ligado em
outro deveras polêmico, que é ecologia. Mas qual é a relação destes
termos com o ser humano e com Deus, de acordo com a eclesiologia cristã?
Ora, no
momento da Criação, conforme a crença judaico-cristã, quando Deus formou o
homem (ser humano), ele o fez conforme a sua imagem e semelhança. "Deus
disse: 'Façamos os seres humanos à nossa imagem, de forma que reflitam a nossa
natureza'”[1]. Além
do nos fazer semelhantes à Ele, ele ainda nos deu uma responsabilidade sobre
tudo aquilo de maravilhoso que ele havia criado para desfrutarmos aqui na
terra. “'Para que sejam responsáveis pelos peixes do mar, pelos pássaros do
ar, pelo gado, e, é claro, por todo animal que se move na terra'”[2].
Mas,
até onde se estende esta responsabilidade dada por Deus? Até que ponto podemos
ser semelhantes a Deus até mesmo no fator chamado criatividade? Quais os
privilégios desta condição que o Pai Celeste nos destes, e como isto pode
influenciar o mundo, e colaborar no plano de salvação divino em Jesus? Pode ser
esta responsabilidade estendida, se comparada as leituras mais ortodoxas, ser
incluída no conceito de Missão Integral[3] apresentado por Padilla?
Certamente
que nossa interação ou intervenção com o meio ambiente pode causar mudanças
deveras significativas; e, como essas mudanças, se realizadas ou não,
determinam e moldam o nosso meio ambiente; tanto no campo como nas cidades;
sejam elas frias ou quentes; ricas ou carentes; na praia, nas planícies, nos
desertos ou nos montes.
E como
também o meio ambiente em interação com o ser humano, tanto para o bem como
para o mal, pode influenciar os fatos sociais, que nas palavras de Émili
Durkheim
são os fenômenos que compreendem
'toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade
dada, apresentando existência própria, independente das manifestações
individuais que possa ter.'(...) Fato
social é algo dotado de vida própria, externo aos membros da sociedade e que
exerce sobre seus corações e mentes uma
autoridade que os leva a agir, a pensar e a sentir de determinadas maneiras. [4]
Estes fatos
sociais estão relacionados extensivamente com os valores e a ética da
sociedade, pois exerce uma força social
que muitas vezes se sobrepõe as vontades e aos valores subjetivos dos
indivíduos. Estes fatos sociais estão sempre em mudança,
muitas vezes afetadas a medida em que se muda a coesão social[5] de
determinada localidade, comunidade ou grupo.
Diante
destas questões, a procura pelo bem-estar[6]
e no meio em que vivemos, sem nos esquecer de uma introdutória abordagem ao
fator salvação integral e qualidade de vida em Cristo[7],
dentro de uma perspectiva teológica e ecológica será o tema deste trabalho.
Pois, por muitas vezes, o ensino teológico evangélico atual brasileiro enfatiza
tanto as questões chamadas escatológicas de uma era vindoura que permite-se
deixar de lado as questões sociais e ecológicas que permeiam a nossa vivência
diária. Questões estas que tanto afetam nossa vida, nossa saúde, nosso
bem-estar, nossa convivência com os seres e a nossa relação com recursos
naturais tão importantes. E que podem nos fazer muita falta em nossa existência
como parte deste complexo sistema de vida. Como por exemplo: a água doce, o ar
puro, a umidade do ar, as áreas verdes, a fauna e a flora entre outras que
podem não serem tão claramente necessárias a existência dos seres vivos,
mas, ainda assim, tão importantes quanto.
De que
forma, e porquê, a Teologia colaborar em encontrar respostas para estas
questões? Diante destas, procuramos através do diálogo
entre dimensões de alguns saberes, encontrar novas respostas para estes novos
problemas socioambientais contemporâneos a luz destes textos bíblicos como
também a luz de pensadores das mais diversas épocas e crenças.
Cap. 1. A QUESTÃO ECOLÓGICA
1.1
Como
está o mundo criado?
Sabemos há
muito tempo que o ser humano, vem, através da retirada de abusiva de recursos
naturais, e também, através da caça e pesca predatória industrial[8]
vem prejudicando o meio ambiente causando extinção de alguns destes e
desequilibrando o sistema ambiental com impactos globais.
Vejamos este
segmento extrato jornalístico:
Uma lista elaborada pela Sociedade de Zoologia de Londres (SZL),
divulgada nesta terça-feira, apontou as 100 espécies de animais, plantas e
fungos mais ameaçadas de extinção no mundo. Cinco são brasileiras: um macaco,
duas borboletas, um preá e uma ave.”Todas as espécies listadas são únicas e
insubstituíveis. Se desaparecerem, nenhum dinheiro no mundo poderá trazê-las de
volta", disse uma das autoras do estudo, Ellen Butcher.[9]
De fato,
este tipo de notícia tem assombrado desde antes do século passado, sobretudo
aqueles que se preocupam com tais dados. Pouco se fez desde então, para mudar
esta realidade, pelo menos a nível governamental e também eclesiológico brasileiro,
que fosse efetivo o bastante para mudar, ou ainda que idealisticamente,
projetar uma nova realidade. [10]
Muito
embora, é sabido que muitos ativistas ambientais[11],
sejam membros de Igreja ou não, têm arriscado suas vidas[12],
e até perdendo-as quando ousam denunciar mais de perto estes abusos ocorridos
em, hoje não tão vastas, florestas brasileiras. Além disso temos as nossas
árvores cortadas, também de maneira além de apenas predatória, pode-se dizer:
abusiva, (como se usando um grau maior para a forma deste abuso),
prejudicando o ar que respiramos, o ciclo das águas e das chuvas entre outros
impactos nada positivos em nosso meio ambiente global[13].
Nas cidades,
além do número excessivo de carros, temos também poucas políticas públicas,
especialmente no Brasil, que procurem arborizar bairros períféricos onde vivem
pessoas de classe financeira mais carentes. A poluição está em niveis
alarmantes. A qualidade de vida, ou O “Bem viver”, que segundo o teólogo católico Afonso Murad,
é um
conceito em construção que engloba os termos sumak kawsay, dos quéchua
do Equador, e o suma qamaña, dos aimarás da Bolívia. Esse conceito
fala-nos de um modo de ser, de uma maneira de entender e conduzir a vida, de
forma relacional, na qual a liberdade, a felicidade, a reciprocidade e o
cuidado e a festa são valores
fundamentais, entre estes significados , que se abrigam no termo “ Bem viver”
encontramos a valorização das necessidades, a busca pela qualidade de vida, a
saúde para o gozo da vida- além de prevenção ou a cura para as enfermidades, o
lazer para o descanso, a observação e
contemplação(...)[14],
está comprometido por um sistema econômico que favorece o
consumo e a aquisição de bens materiais e que ao mesmo tempo favorecem o
aumento da desigualdade social onde esta dinâmica não são privilégios de todos.
Não deveria ser o oposto? Já que o sistema capitalista favorece a aquisição de
bens, por quê poucos na América Latina e
outras localidades capitalistas e oprimidas não têm esse acesso? Até elementos
básicos como moradia e alimentação para todos
são comprometidos em diversas localidades do planeta.[15]
Algumas
localidades, muito embora com grande número de cristãos sejam evangélicos ou
católicos, ainda estão em dificuldades
espirituais, éticas, econômicas entre outras.
Um grande
número e instituções cristãs não cuidam de padrões éticos bíblicos porque vivem
em uma bolha institucional em que o maior interesse é acudir a demanda
mercadológica cristã, em detrimento a uma ética que dialogue e resolva estes
problemas que oprimem os menos favorecidos economicamente.[16]
O “Sal da Terra”[17] está
sem sabor?
Diante deste
quadro, como pode-se os membros de igrejas cristãs também oprimidos
economicamente, pensar em soluções para cuidado do mundo criado quando suas
demandas de sobrevivência estão tão difíceis de suportar?
Refletimos deste modo, segundo o
teólogo alemão da esperança Jurgen Moltmann
Tudo leva a crer que o clima da
terra tem se alterado drasticamente como consequência da ação humana. As calotas
polares começam a derreter, o nível do mar sobe, ilhas desaparecem, aumentam os
períodos de seca, crescem também os desertos etc. Nós tomamos conhecimento
disso tudo, mas não fazemos o que sabemos que devemos saber. A maioria das
pessoas fecham os olhos ou se torna como paralisada. De fato, nada promove mais
as catastrofes do que o paralisante “nada fazer”[18]
Portanto, buscamos encontrar
atitudes refletidas que estejam em harmonia com o espírito cristão de cuidado
com seu próximo, de luta contra a opressão para que esta luta se estenda também
ao âmbito do mundo criado, da Terra e sua fauna e frora. Onde, entendemos com
base na ética bíblica em Gênesis 1, que a humanidade toda será beneficiada
destas atitudes de cuidado.
1.1.1 Quais são as
possíveis causas deste estado atual de
abuso mercadológico em que se encontra o Mundo Criado em Francis Bacon ?
Há toda uma relação de fatores já
que tudo, no mundo criado, está interligado de algum modo.[19]
Mas iremos destacar neste trabalho
alguns fatores registrados na História, sobretudo a do mundo ocidental cristã,
que provavelmente influenciaram o pensamento das gerações que podem ter ajudado nesta formação da ética capitalista e
consumista que rege a maior parte deste mundo glabalizado, e que desta forma, direciona
a extração de matéria-prima para atender a demanda deste sistema.
Francis Bacon (1561- 1626) , um
pensador com uma influência destacável em todo mundo, fora chamado de “inventor
do método experimental”, “fundador da ciência moderna e do empirismo” elogiado
por Diderot (1713-1784) viveu como político e pensador na Inglaterra do século
XVI e XVII, com algumas obras clássicas
que serviram também como fonte para o pensamento moderno se desenvolver. De fato, sua fala no final da
obra Novum Organum ele cita Gênesis e defende seu método empírico
sujeitando a natureza a ser investigada pelo seu método cientifico.[20]
“As outras devem ser recolhidas,
quando se chegar à formação da tábua de citação, estabelecidas pelo pelo
intérprete através da investigação da natureza em particular(...)”
De modo que Bacon continua sua linha
de pensamento onde o empirismo seja a única forma do Homem (humano) colocar as
mãos em suas próprias fortunas que está na Natureza, afirmando assim
Agora
é necessário passar, por ordem, ao adminículos, e as retificações da indução e
depois ao concreto(...) (…) Só então poderemos dizer ter colocado as mãos dos
homens, como justo e fiel tutor, as suas próprias fortunas, estando o intelecto
emancipado, e por assim dizer, liberto da minoridade: daí como necessária,
segue-se a reforma do estado da humanidade, bem como a aplicação do poder sobre
a natureza.[21]
Este, aparentemente, uma aval
filosófico para a exploração da natureza para constituição de fortunas que
ganha mais força após o parágrafo conclusão de seu texto fazer a seguinte
afirmação
Pelo
pecado o homem perdeu a inocência e o
domìnio das criaturas. Ambas as perdas podem ser reparadas, mesmo que em parte,
ainda nesta vida; a primeira com a religião e com a fé, a segunda com as artes
e a com as ciências. Pois a maldição divina não tornou a criatura
irreparavelmente rebelde; mas em virtude daquele diploma: “ Comerás do pão do
suor de tua fronte”[22], por
meio de diversos trabalhos (certamente não pelas disputas ou pelas ociosas
cerimônias mágicas), chega, enfim, ao homem, de alguma parte, o pão que é
destinado aos usos da vida humana.
Assim, Bacon muito
provalvelmente não prevendo as consequências futuras destas afirmações, e que
realmente, no contexto de sua época, talvez não fosse uma afirmação maligna,
mas que trouxera naquele momento e posteriormente uma série de benefícios a
humanidade, que neste nosso novo contexto deve ser relida e novamente
refletida.
O que aconteceu com esta
contribuição de BACON e outras descobertas que deram ínicio ao paradigma do
mundo moderno foi a influência econômica e sua capacidade produtiva não mais do
artesanal como outrora mas agora na modernidade, do industrial. MARCOS AZEVEDO
citando o AFONSO GARCIA RUBIO expressa esta ideia
O
método e o conhecimento experimental
medeiam o aparecimento de uma nova visão do mundo e do homem. O mundo
não é mais para ser contemplado e imitado ( mundo antigo e medieval, mas para
ser enfrentado e dominado pelo homem.(...)(...) O homem desprende-se do mundo e
destaca-se nidtidamente dele. E com racionalidade o enfrenta, domina e
transforma em proveito próprio. [23]
Segundo JUNG MO SUNG, “ O mercado
deixou de ser um lugar em troca de excedentes
para ser tornar o fim de toda produção e um articulador da nova
organização social”.[24]
Desta forma, há uma mudança
sociopolítico religiosa, a economia de mercado faz com que não mais a riqueza
acompanhe os poderosos, mas que o poder acompanhe a riqueza, trazendo, sobre
este novo paradigma, um mercado agora deificado, nascendo essa idolatria de
mercado.[25]
Talvez a lógica da reforma protestante
que estava alinhada com o espírito da modernidade[26] em
que o 'paradigma do sujeito' tenha contribuído para que pessoas, dentro desta
lógica tenha se perdido da mensagem do evangelho e isso contribuiu para o
desenvolvimento da tecnologia em proveito da exploração e industrialização
destes recursos naturais com obediência ao mercado. O mercado pode ser “ouvido”
e decisões podem ser tomadas a partir deste “ouvir”, mas se esta “entidade”
chamada mercado for “obedecida
cegamente” pela maioria da sociedade, podemos ver o que está acontecendo com o mundo criado
sendo oprimido por esta lógica mercadológica excessivamente exploratória.
1.1.2. Sob
a luz da criação em Gênesis
Zabatiero
dialoga e pergunta sobre a necessidade de se conhecer o mundo criado em que
vivemos e de se refletir teologicamente
sobre o mesmo. Afirma, citando Sl 19; Rm 1.18, que o universo desempenha função
de manifestação e revelação de Deus. Mundo este que tem um propósito
estabelescido por Deus, propósito este que é fundamental para podermos praticar
a vontade de Deus ( cF. Ef 1.3-14).[27]
Ora
se Deus criou as árvores e a vegetação, e de forma deveras criativa as espalhou em nosso meio
ambiente, é porque isto é bom e naturalmente necessário para nosso bem viver.
Sendo assim, quando o homem as eliminam do ambiente, por motivos que
consideramos no tópico anterior, isto sempre causa um desequilibrio no meio:
tanto no ar que respiramos, no clima, na vida dos animais e
até no no fator de bem estar
humano em consonância com o ecossistema.[28]
A criação é descrita como um
processo harmônico, ordenado e dirigido pelo próprio Deus, que é o único Deus
existente. Isto se contrasta com textos mesopotâmicos, por exemplo, que falava
da criação como resultado de uma luta entre deuses, como fruto do caos,
desordem inicial produzido por esta luta entre deuses, e que poderia, a
qualquer momento, ocorrer novamnte se os deuses não fossem devidamente
servidos. O relato de Gênesis 1, em especial, tanto por sua forma poética e
ordenada( com a sequencia de dias e refrão ao final de cada dia, progredindo em
complexidade até a criação da humanidade e a satisfação e a benção do descanso), quando através de
seu conteúdo, fala da criação como expressão
da amorosa ordem e harmonia da ação de um Deus que se deleita naquilo
que cria ( repare no refrão” E viu Deus que isso era bom “, repetido ao final
de cada dia da criação) (…) (…) O texto de Gênesis conta que somente a Palavra
de Deus foi o instrumento e a matéria usada por Deus para criar tudo o que
existe.( em Hebreus 11:03, usa-se a linguagem semelhante, que deu origem ao
termo teologico latino creatio ex nihilo, que significa, criação a
apartir do nada- ou seja, ao criar a própria matéria é criada pois nada além de
Deus existia antes da criação. Neste sentido, a criação toda é “espiritual”,
pois sua matéria é a própria Palavra de Deus.[29]
Assim, ZABATIERO nos coloca
diante do modo especial em que Deus coloca toda criação debaixo de suas asas
“espirituais”.
Também podemos perceber a
importância espiritual que toda criação recebe de Deus nesta reflexão do PAPA
FRANCISCO
Os
relatos da criação no livro de Gênesis
contém, em sua linguagem simbólica e narrativa, ensinamentos profundos sobre a
existência humana e sua realidade histórica. Essas narrativas sugerem que a
existencia humana baseia-se em três relações fundamentais estreitamente
conectadas: a relação com Deus, com o próximo e com a Terra. (…) Nelas já está
contida uma convicção atual: que tudo está relacionado e que o autentico
cuidado com a nossa própria vida e com nossas relações com a natureza é
inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade com os outros.[30]
Assim, também percebemos, pela via
do PAPA, como deveras importante é
entendermos de forma espiritual o significado de todo mundo criado por Deus e
entendermos a relação de cuidado com este.
ZABATIERO assim traz uma perspectiva
mais ampla no sentido de criação. Sabedoria está junto ao bojo de realidades
que Deus criou como forma da dar toda completude a seu ato criativo.
Poderíamos
dizer que o universo é um grande poema de Deus, presenta de Deus que não tinha
necessidade de criar o mundo, mas, por amor, o criou. No livro de provérbios
fala-se da sabedoria com agente divino da criação ( 8.22-36), com uma
linguagem simbólica bastante exaltada que coloca sabedoria no mesmo nível da
Palavra de Deus. A sabedoria, no AT destaca principalmente a harmonia do mundo
criado e a importância de justiça nas relações entre as obras da criação, a fim
de que haja vida para todos.
Sabedoria esta que deve nos ajudar
em nossas relações com este sensacional mundo criado.
1.2.1.
Espírito Santo como Sustentador da
comunhão ecológica.
O
Espírito Santo de Deus nos sustenta de maneira poderosa e ordena o mundo
natural.Todas as relações entre os seres vivos estão entrelaçadas por suas
interrelações e, ainda mais, pelo poder ordenador da Santo Espírito[31].
Pois
Jesus se fizera um de nós, se desfazendo de sua suprema dignidade, para se
revelar e oferecer unidade e comunhão com o Deus Trino e Uno por meio de sua
obra salvífica.
O
Espírito deste modo traz também a Sua condução neste processo de unidade e
comunhão divinas tanto vertical quanto horizontalmente, assim como para
continuar a sua obra missionária salvífica a partir da redenção divina.[32]
2. A
QUESTÃO DO PROGRESSO
Muitos
avanços tecnológicos fizeram a humanidade em todas as épocas, desde o ínício da
existência desta, mas, a partir do séc. XX, ou até antes as em menor proporção,
estes avanços foram se tornando um bem necessário, tão necessário que muitos de
nós simplesmente dizemos “não conseguir viver sem eles”, conforme nos informa
muitas pesquisas de opinião nesta geração contemporânea. É dito que não se
consegue viver sem tecnologia mesmo quando isto se torna algo paradoxal, quando
os avanços deveriam ser indícios de um bom progresso. Estes nem sempre o
são.
Apesar
do termo progresso segundo definição do dicionário na internet seria” Ação
ou resultado de progredir” e “Movimento pra frente; avanço”[33].
Diante
destes conceitos nos dicionários, junto aos nossos pressupostos, percebe-se um
destaque ao movimento como se todo movimento para frente, em avanço fosse algo
extremamente benéfico, mas ao analisarmos esse termo criticamente e entendermos
as consequências deste tipo de mentalidade progressista, podemos realmente
afirmar que todo movimento de avanço, sem considerar seus efeitos colaterais,
são benéficos?
Claro
que o termo progresso não se limita apenas avanços tecnológicos, pois temos
outras dimensões de progresso, como por exemplo, o progresso social ou o
progresso de uma lavoura por exemplo. Porém, no âmbito das tecnologias é onde
percebe-se o quanto o mercado e o consumismo acabam por supervalorizar essa
ideia de progresso.[34]
Supervalorização
esta que pode trazer efeitos que devem ser analisados criticamente. Em outras
palavras, podemos conceituar o progresso de uma forma mais ampla para
trazer-nos uma nova interpretação este conceito?
Alguns
entendem como progresso uma atitude não conservadora, simplesmente. Pois
progresso leva as pessoas a se moverem sempre. Mas, neste movimento chamado
progresso há alguma espécie de real crítica sobre como este progresso está
sendo feito? Ou a que fim este progresso levará determinada situação? Será que
algumas atitudes vistas como conservadores, podem serem vistas como progresso
também? A partir destas perspectivas, aqui analisaremos estas questões de forma
breve.
2.1.1.
Consequências do progresso
Moltmann traz à tona um problema que
deveras é debatido ao redor do mundo e estre os países “chamados os mais ricos
e desenvolvidos”. Mas não há consenso e, nem tampouco se tem notícia de 'boa
vontade' por parte de muitos destes líderes globais em resolver estas questões
sendo que esta chamada “paralisia" denunciada por Moltmann pode e atinge
níveis alarmantes.
Porque
tanto a relação da Modernidade com a natureza quanto a sua concepção de ser
humano são determinados pela teologia. Isto se revelou no princípio do domínio
do ser humano, criado assemelhados a Deus e, por fim, o conceito mecanicista da
Terra e dos demais seres vivos. Os quais deveriam ser subjugados pelo gênero
humano.[35]
Quando
nós resolvemos que o automóvel seria o principal modo de transporte de muitas grandes
cidades, será que analisamos com clareza as consequências que porventura
apareceriam?
Basta uma olhada em
nossa volta para percebermos que não, ou, pelo menos, aparentemente pouca gente
se importa, sobretudo em solo brasileiro, se nossas ruas serão tomadas pelo
asfalto e cimento, não deixando sequer uma pequena faixa de terra ou gramado, e
acabando com a pequena fauna e com o
pouco verde que poderia fazer parte deste, quase invisível, ecossistema nesta
comunidade.
Em
favor do automóvel. Em benefício da comodidade de se usar automóveis a todo
momento e para todas as locomoções, a humanidade acaba com a possibilidade de
vida animal e floral nativa neste solo, dando lugar para as pragas de insetos e
roedores que podem, e costumam, ser um problema com status de saúde
pública em áreas metropolitanas e com grande concentração de humanos.
Consequentemente,
neste Brasil onde as temperaturas costumam serem altas na maior parte do ano, a
combinação de asfalto, excesso de prédios bem altos que dificultam a circulação
do vento, pouca sombras causadas pela falta de árvores, escassez de ar puro
processados por elas, e a pouca umidade relativa do ar causam fenômenos como: a
falta de chuvas em lugares onde outrora chovia-se razoavelmente, alergia se
problemas respiratório nas pessoas, cansaço, uma sensação de desconforto
aparentemente inexplicável que o ser humano nem mais está realmente sensível a suas verdadeiras causas
e nem tampouco se dá conta disso, à não ser que seja conscientizado disto ou
tenha um insight que lhe revele, momento este que pode ser atuação do
Espírito de Deus que sustenta toda a ordem do mundo criado.[36]
2.2.1. Benefícios do progresso
O
progresso, aqui de modo benéfico, se caracteriza como uma atitude de vanguarda
onde valores são imputados na sociedade de modo que traga vida, e de certa
forma tenha conexões paradigmáticas na sociedade ou microcosmo social onde é
produzida. PADILLA faz uma leitura desta forma progressiva de ser usando a nação
antiga de Israel como modelo, conforme esta conexão paradigmática entre Israel
e o resto do mundo onde biblicamente está inserida a vontade de Deus. PADILLA
lê o Levítico 25 onde existe a ordenança do Jubileu para traçar este claro
paralelo com a atual situação do sistema econômico mundial
Em
que pesem os anos transcorridos, os valores do Jubileu mantêm sua vigência
pelas seguintes razões, entre outras: 1. Porque o própósito de Deus para a
humanidade permanece (…) Um dos elementos deste próposito é que as relações
humanas, incluindo as que se referem à questão econômica, se baseiam no amor e
na justiça(...) Porque, no fundo, os problemas que obstruíam as relações
humanas nos tempos bíblicos então presentes também hoje: o abuso do poder, a
ambição de riquezas materiais, a exploração dos pobres.[37]
Deus havia criado, com o estabelescimento do
Jubileu, uma lei onde havia um sistema de proteção social muito à frente de seu
tempo, tão à frente que transcende os dias atuais.
“A
preocupação de Deus com à terra, onde se encontra referência também em Êxodo
23.10,11 e Deuteronômio 15.1,2. Em primeiro lugar, Deus propôe que a terra
descanse periódicamente, a cada sete anos”[38]. Onde Deus
expressa seu cuidado de forma sustentável à sua criação. De forma que este
descanso expressa sobremaneira a responsabilidade ecológica não justificada por
interesses econômicos, mas pelo simples cuidado do mundo criado, ainda assim em
favorecimento a toda provisão garantida pelo Criador.[39]
O
lógica do progresso em que vivemos, dominada pela ideologia do crescimento
capitalista ilimitado não deixa espaço para o descanso da terra, muitas vezes,
nem dos animais e nem do povo que trabalha dentro desta lógica cada vez mais
exploratória.
A lógica de um progresso mais atrelado a
melhoria de vida em geral, o que é defendido aqui como progresso benéfico,
seria uma lógica em que a “administração que
cuida dos que nos fora confiado”[40] que é o
significado original da palavra economia. A economia deve então estar
associada ao cuidado daquilo que nos é
confiado trazendo assim uma perspectiva de um progresso que sela realmente
benéfico. Benéfico para os humanos, para os animais, para a flora, para o ar
saudável, para a terra que também precisa de descanso, para a diminuição da
pobreza e das desiguldades sociais, para uma ampla política em que haja emprego
e sustento digno para todos. Paises e nações onde se explora mão de obra barata
e não têm consciência em cuidar do planeta em nome do mercado, deveriam
contemplar novos modelos sustentáveis onde o planeta será beneficiado e as
pessoas junto com toda criação possa desfrutar, no mundo todo deste modelo
criado por Deus para seu povo de Israel que deve se estender para toda
humanidade. Todos e toda criação têm direito ao descanso do Senhor para que
suas relações econômicas sejam renovadas e sempre refletidas conforme ordenação
divina.
2.2.1.
Anomia no Mundo Criado
Existem
certos agravantes em não sermos sensíveis ao nosso mundo criado.
Muitas
vezes deixamos o “progresso” avançar de maneira descontrolada de forma qque
este deixa de sê-lo.
Além
de muitas vezes acabarmos com a interação natural do lugar, ainda temos que
lidar com a baixa qualidade de vida; a falta de calçadas largas o suficiente
para uma boa caminhada com carrinhos de bebês, cãezinhos abandonados que logo
podem ser atropelados em seu outrora próprio habitat natural (agora dominado
pelo asfalto), e até mesmo a criminalidade entre os jovens que talvez aumente
por motivo de stress ambiental.
Explicando stress ambiental a luz de
Marx:
A consciência acerca do ambiente
sensível imediato e a a consciência da conexão limitada(...) é, ao mesmo tempo,
a consciência da natureza, a qual a princípio se opõe aos homens como um poder
completamente estranho, todo-poderoso e inatacável, com o qual os homens se
relacionam de modo puramente animal e pelo qual os homens se deixam amedrontar
como animais; e, portanto, uma consciência puramente animal da natureza.
(Religião Natural).[41]
Aceitando ou não este argumento integralmente,
percebemos que a idéia seguinte se apropria em partes desta reflexão de Marx
onde todos ambientes desfavoráveis a: vida livre, prática de esportes, as
brincadeiras de crianças e jovens; podem de certa maneira, se não for feito os
ajustes sociais necessários, serem fatores que causam os Fatos Sociais
indesejáveis (pois, claro, também existem os desejáveis!) que regem
determinadas sociedades; e que podem levar estas mesmas crianças e jovens a
penderem em direção a marginalidade ou
até mesmo criminalidade. Como acontece com frequência em áreas de gueto e
periferias no Brasil. Pois o esporte, a igreja, a vida saudável em comunidade pode
ser decisivos para que um fato e uma coesão social sejam
inclusivas, mesmo as classes mais carentes. Em contrapartida, a ausência de
atividades esportivas em ambiente abertos: ausência da igreja, ou daqueles que
seriam “bons exemplos”, causa uma coesão social muitas vezes maligna, em que o
jovem não vê outros heróis a não ser os criminosos mais perigosos, que lhe
oferecem uma proteção muitas vezes utópicas, explorando estes em suas
atividades mercantis criminosas. Leia-se tráfico de drogas, assaltos, entre
outras.
Assim façamos esta
pergunta. Até que ponto estamos realmente progredindo benéfica e historicamente
no Brasil?
Seria
ao ponto de um progresso ás avessas, se considerarmos as idéias da
maioria, até onde sabemos, dos ambientalistas e sociólogos em âmbito
brasileiros. Pois tudo que piora a qualidade de vida do ser humano e sua
felicidade, não pode ser chamado de bom progresso. Pois progresso, diante desta
perspectiva, seria um aperfeiçoamento na vida na comunidade. Diante da
perspectiva ambiental, podemos e devemos fazer muito mais, ou de outro modo
estaremos deteriorando o nosso progresso.
As
desigualdades sociais têm aumentado no Brasil
3. A
QUESTÃO DA TRANFORMAÇÃO
3.1 Reino de Deus e Mundo Criado
“Além
desta razões, refletir sobre o mundo criado no sentido teológico é fundamental
para nos ajudar a viver melhor e de
forma harmoniosa com a natureza toda, desfrutando adequadamente daquilo que
pertence a Deus. a criação toda daquela somos mordomos ( Gn 1 e 2 ) ”[42]
A presença da Igreja, no mundo, como
continuação do ministério de Jesus Cristo, firma-se práxis e anúncio do Reino
de Deus que carrega em si o chamado a liberdade quem responde a vocação da
graça. Livra-se da escravidão do pecado, das forças meritórias de qualquer
religiosidade da opressão do diabo, de si mesmo, e abre-se à nova vida,
ofertada pelo único capaz de promover tal libertação- a experiência com o
Cristo de Nazaré. Ou seja, não existe salvação sem a experiência da liberdade.[43]
Se a nossa cultura, especialmente a brasileira, não se
importa com o mundo criado, Freston debate a assunto desta maneira
Precisamos ser contraculturais
na Igreja, não apenas na sociedade. Por isso, precisamos de equivalentes
evangélicos de monasticismo, que preservem a fé contracultural, que valorizem o
pequeno e busquem uma vida cristã mais séria e abnegada.(...) [44]
3.1.2. O progresso em
consonância com a Natureza
Os excessos do consumismo orientados
por ouvirem somente o mercado ocorrem em diversos âmbitos da atividades
industriais com vista no super lucro e na ênfase de fomentar o a consumismo de
forma a aumentar o super lucro.
Moltmann sugere este discurso como
solução
Nós
precisamos desenvolver uma nova forma de compreender a natureza, bem como uma
nova concepção de ser humano para que, assim, possa surgir uma nova forma de
experimentar Deus em nossa cultura. Neste sentido, uma nova teologia ecológica
pode nos ajudar imensamente.[45]
No Brasil, as atividades agrárias
sobretudo nas regiões Centro-Oeste e parte da Sudeste têm se intensificado as
monoculturas onde é privilegiado o grande latifundiário. Grandes áreas
produtivas são usadas em forma de pastos, outras para cultura da cana-de-açucar
para produção de combustível onde há muito tempo se sabe, empobrece o solo e
dificulta que os pequenos agricultores cultivem lavouras e criações diversas e
possam otimizar a entrega do fruto de seu trabalho à sociedade um produto muito
melhor, livre de agrotóxicos e transgênicos através da excelente idéia das
cooperativas. O assentamento legal, com apoio dos governos, dos militantes do
Movimento dos Sem–Terra para que
pudessem desenvolver seu trabalho de forma digna, seria uma justa solução que
amenizaria o problema da falta de renda de muitas famílias, diminuiria o êxodo
rural melhorando a mobilidade das grandes cidades e trazendo mais recursos
ecônomicos nas mãos da população destas localidades, onde entendemos que isto
trará novas formas de arrecadação dos governos, que se aplicados com sabedoria,
podem trazer desenvolvimento sustentável sobretudo para este país, chamado
Brasil.
Nas grandes cidades, a separação dos
lixos recicláveis também ajudaria a aumentar o grau de salubridade das pessoas que vivem em
grandes cidades. A vida mais simples traria também novas perspectivas sobre
como diminuir o desperdício de comida nos supermercados, restaurantes e
padarias. Sabe-se que pessoas têm tomados atitudes individuais que reduzem este
desperdício, mas atitudes coordenadas pelos governos ou instituições religiosas
conscientes podem produzir ainda mais riquezas desta atiudes suntentáveis.
Atitudes como o simples
compartilhamento do carro ou moto pode gerar uma grande economia a todos, em
combustível, em estacionamentos, em tempo de percurso até que nossos governos
possam investir em transportes públicos de qualidade, dignos e seguros. Rápidos
o bastante para que não se faça mais sentido ir ao trabalho o escola de carro.
Deste modo o carro seria usado apenas pra fazer compras e viajar. Imaginem se
na cidade de São Paulo 30% dos motoristas tivessem esta atitude, seria
aproximadamente 2,5 milhões de carros à menos nas vias otimizando o tempo de
todos.[46] Levando em conta que
muitas pessoas perdem muitas horas no trânsito de São Paulo, a otimização deste
tempo de percurso traria além de
benefícios econômicos para cidade pois as pessoas chegariam nos horários ás
reuniões, trabalhos, escolas entre outros compromissos o que diminuira o stress
e aumentaria a disposição física das pessoas em geral. E melhora o ar.
E porque não também, vias acessíveis
a cavalos e similares se alguém assim optar por seu uso não abusivo como
transporte alternativo? Com uma bela legislação que defenda esses animais de
violência e qualquer forma de abusos sem dúvidas. Se a nossa cultura,
especialmente a brasileira, não se importa com o mundo criado, FRESTON debate a
assunto desta maneira
Precisamos ser contraculturais
na Igreja, não apenas na sociedade. Por isso, precisamos de equivalentes
evangélicos de monasticismo, que preservem a fé contracultural, que valorizem o
pequeno e busquem uma vida cristã mais séria e abnegada.(...) [47]
3.2.A
arte humana em harmonia com a natureza criada por Deus
Muitas
vezes conseguimos transformar uma obra prima de Deus em algo que seria chamada
de nossa arte ou arte humana.
Quais as implicações das intervenções artísticas da humanidade e qual a
relação desta com Missão Integral neste contexto de sustentabilidade?
Relatos
bíblicos nos diz: Somos semelhantes ao Deus Criador. E Deus também nos dá
oportunidade de criarmos artisticamente, que não é necessariamente criar, mas
transformar criativamente o que já fora dado por Deus, pois o mandamento de
Deus não é contra a produção da arte em si, ”Mas contra a adoração a
qualquer coisa além de Deus, e, especificamente, contra a adoração à arte.
Adorar a arte é um erro; produzi-la não.”. Segundo Francis A. Scheaffer.
Essas
idéias surgem tanto da bíblia quanto na defesa do teólogo Scheaffer, de que
muitas vezes Deus ordenara que se produzisse obras de arte, tanto na confecção
da Arca da Aliança, quanto nas vestes do sacerdote, ou na construção do Templo,
na música, entre outros exemplos bíblicos. O que o povo deveria fazer é nunca
tomar estas formas de expressão artísticas como ídolos. Pois só Deus é digno de
adoração.
Desta
maneira, doutrinas baseadas na Bíblia nos permitem criar artisticamente
e até mesmo em nome de sua expressão religiosa, porém, deve-se levar em conta
que, até que ponto, uma intervenção humana na natureza pode ser maligna ou
benigna. Creio que a melhor maneira seria estar atento a voz do Espírito
Santo. Desta maneira René Padilla nos exorta:“ Sem oração não há
missão cristã”[48]. Também nos ensina que ”em síntese a missão
cristã começa e termina em Deus”[49].
Assim a criação artística da humanidade deve ter a direção de Deus.
Criar é algo bem
abrangente, então, vamos especificar a criação artística no âmbito do
meio-ambiente.
Criar artisticamente,
pode ser também: a construção de casas, fábricas, ruas, prédios ou quaisquer
outras formas de intervenção humana no meio ambiente que não agredisse o mundo
criado por Deus, especialmente sua fauna e flora. Assim foi escrito por
Montaigne:” Não há razão para que a arte sobrepuje em suas obras a natureza,
nossa grande e poderosa 'mãe'. Sobrecarregamos de tal modo a beleza e riqueza
de seus produtos com nossas invenções”[50].
A nossa arte
criativa, especialmente a arte ambiental deve levar em conta os fatores
de proteção aos animais, aos seres humanos, e respeito a criação divina. Ou
seja, estar em harmonia com todos esses fatores tornam a arte humana, o
progresso, algo bom e que eleva o nível de desenvolvimento humano de uma localidade.
3.2.1.
Um papel de Cuidado
Uma má influência artístico-criativa
no meio ambiente pode trazer efeitos sociais curiosos.
Desta
maneira, o trabalho começa com a conscientização.
Havendo
engajamento espiritual, pregação da palavra de acordo com valores cristãos e
conscientização, podemos paulatinamente realizar esta reforma social e resgatar
estes valores de verdadeiro relacionamento com Deus, entre as pessoas e a
criação divina segundo ideais da Teologia de Missão Integral e da Teologia da
Libertação, já que o termo sustentabilidade também sugere interação entre pessoas e as coisas criadas, e nesta
interação não pode se haver exploração, sobretudo dos mais
necessitados, nem dos animais, das plantas e do Planeta em si. Pelo contrário,
deve-se haver um esforço de se incluir socialmente estes para que a sociedade
melhorar em sua justiça.
Deste
modo, PADILLA cita a 'economia do suficiente'
onde é privilegiada o estilo de vida
simples e dá descanso porque coloca a
relação com Deus, com o próximo e com a criação acima do interesses materiais.
É uma economia que nas palavras de E.F. Schumacher, leva em conta que “as
pessoas importam”[51]; é uma economia
que insiste ns necessidades básicas de TODOS os membros da sociedade, sem
exceção, e exclui a acumulação de posses materiais em mãos de uma minoria
privilegiada.[52]
Uma
economia voltada para o bem estar de todos também trará e economia para os mais
mais ricos que serão beneficiados por um melhor lugar para se viver com pouca
poluição onde se aumenterá a qualidade de vida e consequentemente à saúde de
todos.
Ainda,
segundo o teólogo Júlio Paulo Tavares Zabatiero e sua sistemática, vivemos numa
comunhão ecológica com Deus, com os
irmãos, e com toda a Sua criação, através de seu Espírito Santo.
Por
este motivo; harmonia, felicidade, bem-estar e proteção à criação, e a não
exploração destas podem ser fortes indícios de intimidade, comunhão e harmonia
com Deus.
CONCLUSÃO
A
reflexão teológica e cristã ao longo de suas eras, especialmente em períodos de
crises como: guerras, divisões familiares, violência urbana, carência de
alimentos, tem dado respostas muitas vezes, bem à frente de seu tempo
à muitos destes problemas. Ainda que nem todos os problemas fossem
solucionados de forma lógica, mas podemos dizer que todos tiveram suas
tentativas, embora muitas destas tentativas envolvam paradoxos que por fim, o
próprio paradoxo é que sustenta-se como solução. Porém, não consegui enxergar
através desta pesquisa dificuldade teológica ou paradoxos em tratar destas
questões em forma de proteger nosso mundo criado. Sim, como parte dele, e ser
parte dele não significa que temos igual responsabilidade sobre o que acontece
com ele junto a todos os outros seres que nele habitam. Os outros seres não têm
a capacidade destrutiva dos seres humanos. O desequilíbrio que mata cãezinhos
nas estradas atropelados e animais marinhos em seu habitat não podem ser
controlados por esses animaizinhos que fazem parte do mundo criado senão pelo
ser humano.
Então,
consciente de que nós, os humanos, estamos em privilégio pois temos a
capacidade mental de encontrar soluções de vida que beneficiem os oprimidos
neste mundo Criado. Então, que assumamos nossa parte conforme Deus nos deixou
responsáveis. Porque ELE tudo criou e disse: “É bom”.
Podemos
ser criativos e abençoar muitas vidas em nome de Jesus ainda no mundo secular. Pois, além da questão de intervenções
sobrenaturais de fé cristã, também somos chamados a agir no mundo natural
também, mas devemos ser éticos e pensar se esta nossas atitudes criativas podem
afrontar de algum modo a criação de Deus por serem, por exemplo, demais consumistas e egoístas. Analisemos esta
informação:
Quarenta anos atrás, o mar de Aral ficava repleto de barcos
e pescadores - mas agora ele praticamente desapareceu. Ele começou a secar com
a construção de represas e canais, a partir dos anos 1960, que impediram dois
rios de abastecê-lo de água. Em 2000, o Mar de Aral do Norte já estava separado
do Sul. Em 2014, o lado leste do mar já estava completamente seco.
Ora,
se pelo simples fato de intervirmos excessivamente no meio ambiente trazendo
stress e infelicidade para as pessoas que ali vivem, já pode ser uma afronta à
criação de Deus. Imaginem.. matar e deixar morrer os cãezinhos atropelados nas
vias públicas e os pássaros serem extintos próximos a locais onde se há grandes
concentrações de humanos em centros urbanos. Por mera ação humana, consciente
ou inconsciente, que aniquila qualquer habitat tornando-o pouco
produtivo para que as obras e arte de Deus possam viver neles. Como
podemos nos esquecer que a criação de Deus está, biblicamente, sob nossa
responsabilidade? Não podemos esquecer e nem tampouco sermos passivos diante
desta situação que pode trazer infelicidade para nossos filhos, netos
familiares, amigos, nós mesmos e a Deus.
A
exploração excessiva de recursos naturais, as superproduções de lixo e a falta
de programas de proteção ao ambiente e aos animais trazem muitas dores ao
nosso ecosssistema.
Normalmente,
a história contemporânea tem demonstrado que na falta de recursos, sejam eles
quais forem, sempre atingem os mais carentes. Quem sentem os efeitos de forma
mais cruel em contundente são os mais pobres. Sendo assim a falta de cuidado
com a natureza também pode ser, um instrumento de opressão aos mais
necessitados, que irão, ou já estão sentindo efeitos da má mordomia humana com
relação aos recursos, enquanto, de outro lado, surgem atitudes de alguns
humanos que minimizam ou revertem este quadro trazendo enormes benefícios à
vida dos mais carentes, dos mais ricos, de toda população, pois entenderam que o conceito de mordomia com o mundo criado
por Deus trouxe sustentabilidade aumentando a qualidade de vida de
todos, incluindo os pobres.
Devemos
valorizar muito toda criação de Deus, ainda que almejamos morar no céu como
meta, anseio de nossa fé.
Além
do mais, gostaria de fazer uma pequena referência aos bebês intrauterinos, que
já receberam à vida. Devem ser muito bem preservados e cuidados. Não abortados.
Segundo o teólogo Luiz Sayão:” A vantagem teológica é de quem é mais
parecido com o nenê:'Naquela ocasião Jesus disse; Eu te louvo, Pai, Senhor dos
céus e da terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e cultos, e as
revelastes aos pequeninos. Sim Pai, assim foi de Teu agrado'''.
Ora, nem nasceram
ainda e será que não vão conhecer as mavilhas da criação de Deus em sua natural
originalidade? Percebem o quanto crianças sentem pesar quando veêm bichos
perdidos e abandonados nas ruas em espaços urbanos? Normalmente as crianças têm
um poder acima da média em convencer os pais a adotarem bichinhos abandonados.
A ideia de Missão Integral envolve também
justiça para esses pequeninos que virão após nossa geração, e que merecem um
lar tão puro, justo e agradável para todos es seres assim como o Pai Celeste
nos destes.
Ecclesia Reformata et semper
reformanda est
Referências
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Peterson. São Paulo: Vida, 2011.
AZEVEDO, Marcos. A liberdade cristã em Calvino:
Uma resposta ao mundo contemporâneo. Santo André: Academia Cristã, 2009.
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Um desafio à teologia. IN: Fides reformata,4/1, 1999.
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MOLTMANN, Jürgen; BOFF,
Leonardo. Há esperança para humanidade ameaçada? Petrópolis: Vozes,
2014.
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios.
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MORIN, Edgar. Os sete
saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. – São Paulo: Cortez;
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PADILLA, René. O que é
Missão Integral? Viçosa: Ultimato, 2009.
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Mamon: Economia na era da globalização. Rio de Janeiro: Novos diálogos,
2011.
PANNENBERG, Wolfhart. Teologia
sistemática: Santo André: Academia
Cristã; São
Paulo;Paulus, 2009.V. 3. 840 p.
PINA, Àlvaro & et al.
Karl Marx e Friedrich Engels: a ideologia alemã. Lisboa: Editorial
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QUINTANEIRO, Tania & et al. Um
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Agora sim: teologia prática do começo ao fim. São Paulo: Hagnos,
2012.
SCHEAFFER, Francis. A
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TILLICH, Paul. Teologia da cultura. São Paulo: Fonte
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Sítios eletrônicos visitados
BETA,Veja.com.IN:<http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/cientistas-divulgam-lista-das-100-especies-mais-ameacadas-de-extincao.>
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MATOS, Alderi Souza. IN: Reforma protestante.< http://www.mackenzie.br/6962.html>
acessado em 27/04/2015
IN:<http://noticias.terra.com.br/ciencia/sustentabilidade/fotos-da-nasa-registram-mudancas-ambientais-no-mundo,fe2d92b19b9ac410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html> Acessado em:13/04/2015
<https://vejasp.abril.com.br/cidades/carros-em-sao-paulo/ > acessado em 22/10/2017 ás 22:16
[1]
A BIBLIA Mensagem. Tradução de Eugene Peterson.
São Paulo: Vida, 2011.
[2]
PETERSON, 2011, p.23
[3]
Segundo Padilla: Conceito de Missão no qual este é um meio “designado por Deus para cumprir na história,
por meio da Igreja no poder do Espírito,
seu propósito de amor e justiça revelado em Jesus Cristo.”
[4] QUINTANEIRO,Tania
& et al. Um toque de Clássicos: Marx, Durkheim&Weber. 2ª
ed.revista e ampliada.Belo Horizonte. UFMG.2003.pag. 68 à 81.
[5]Para
a sociologia, a coesão social é o sentido de pertença a um espaço comum ou o
grau de consenso dos integrantesde uma comunidade. Dependendo do grau de
interação social no seio do grupo, poderá haver mais ou menos coesão.
[6]Trata-se,
neste texto, da satisfação humana em estar próximo, e em harmonia, ao mundo
criado, não sendo uma ideia evolucionista, mas, sobretudo, a ideia do propósito
original de Deus em posicionar o ser humano em ambiente paradísíaco e adequado.
[7]
PADILLA, René. O que é Missão Integral? Viçosa: Ultimato, 2009. p.62.
[8]Neste
artigo, refere-se ao extrativismo exagerado, por causa do consumismo mundial,
que financia esta prática extrativista que não está preocupada com o fator
“sustentabilidade”.
[9]BETA,
Veja.com.IN: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/cientistas-divulgam-lista-das-100-especies-mais-ameacadas-de-extincao.
Acessada em:13/04/2015
[10]Cf.
FRESTON, Paul. Religião e Política sim, Igreja
e Estado, não: Os evangélicos e a participação política. Viçosa: MG: Ultimato.2006. pp.46-48.
[11]http://meioambiente.culturamix.com/ecologia/o-que-sao-ativistas-ambientais
acesso em 05 /08/2017 ás 22:30hs.
[12]https://www.cartacapital.com.br/sociedade/brasil-e-lider-em-assassinatos-de-ativistas-ambientais-diz-onu
acesso em5/08/2017 ás 22:32 hs.
[13] Cf. MURAD, Afonso et all. Ecoteologia:
um mosaico. São Paulo: Paulus, 2016. Apud
Fonte: <http: //cupuladospovos.org.br>. Acesso em 17/05/2013.
[14] MURAD, Afonso et all. Ecoteologia:
um mosaico. São Paulo: Paulus, 2016.
[15] MURAD, 2016, pp. 32,33.
[16]Cf.
FRESTON, 2006, p.44.
[17]Cf.
A BIBLIA. 2011. Metáfora de Jesus que refere-se aos discípulos em serem uma
contracultura que tráz luz e um lugar de mudança ao mundo corrompido ao ponto
de dá-lhe 'um novo sabor” com justiça, amor e nova direção.
[18]
MOLTMANN, Jurgen & BOFF, Leonardo. Há esperança para humanidade
ameaçada? Tradução: Levi Bastos. Petrópolis: Vozes, 2014.p.18
[19]MORIN, Edgar. Os sete saberes
necessários à educação do futuro. 2. ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF
: UNESCO, 2000.
[20]
BACON, Francis. Novum Organum ou verdadeiras indicações acerca da
interpretação da Interpretação da Natureza;Nova Atlântida.São Paulo: Nova
Cultural.1988.
[21]BACON,
1988, p. 230
[22]BACON
apud A Biblia, Tradução JoãoFerreira de Almeida , .
[23] AZEVEDO, Marcos apud
RUBIO, AFONSO. A liberdade cristã em Calvino: Uma resposta ao
mundo contemporâneo. Santo André: Academia Cristã, 2009,p.41.
[24]AZEVEDO
apud SUNG, Jung Mo, 2009, p.41.
[25]Cf.
AZEVEDO apud SUNG, 2009, p.42.
[26]COSTA,
Hermistem Maia Pereira. Pietismo: Um desafio à teologia. IN: Fides
reformata,4/1, 1999.
[27]Cf. ZABATIERO,
Julio Paulo Tavares et al. Curso Vida Nova de Teologia Básica: Teologia sistemática. São Paulo:
Vida Nova, 2006, p.50
[28]Idem, p.50
[29]Idem,
p.51
[30]GARCIA,
Luiz Gabriel Espindola & LODOÑO, Alejandro apud Papa Francisco. Perspetciva a partir
da Biblia. IN: MURAD, 2016, p. 137.
[31]Cf.
ZABATIERO, 2006, p. 44.
[32]Cf.
ZABATIERO, 2006, p. 44.
[33]Em
<https://www.google.com.br/search?q=progresso+significado&oq=progresso&aqs=chrome.2.69i57j0l5.5764j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8>
acessado em 18/09/2017 ás 15:51 hs.
[34]Cf.
AZEVEDO apud SUNG, 2009, p.41-42.
[35]Idem., p18,
Moltmam apud ?
[36]Cf.
ZABATIERO apud Salmos 104:29,30, 2006, p. 53.
[37] PADILLA, René. Deus e Mamon: Economia na era da
globalização. Rio de Janeiro: Novos diálogos, 2011.
[38]
PADILLA, 2011, pp.34-35.
[39] Cf.
PADILLA, 2011, pp.34-35.
[40]PADILLA
apud GOUDZWAARD e LANGE, 1995:42, 2011, p. 36.
[41]PINA, Àlvaro & et al. Karl
Marx e Friedrich Engels: a ideologia alemã. Lisboa: Editorial Avante,
1846.
[42] Zabatiero, 2006, p. 49
[43]
AZEVEDO, Marcos. A liberdade cristã em Calvino: Uma resposta ao Mundo
contemporâneo. Santo André: Academia Cristã, 2009, p. 303.
[44]Cf.
FRESTON, 2006, p.47.
[45]Idem,
p.18
[46]<https://vejasp.abril.com.br/cidades/carros-em-sao-paulo/ > acessado em 22/10/2017 ás 22:16
[47]Cf.
FRESTON, 2006, p.47.
[48]PADILLA,
2009. p.p. 10-65.
[49]PADILLA,
2009. pp. 10-69.
[50] MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. São Paulo: Abril
Cultural, 1972. p. 104
[51]PADILLA
apud SCHUMACHER(1974), 2011, p. 36
[52]PADILLA,
2011, p.36.